A Copel, empresa paranaense que gera e transporta energia elétrica, gás e dados - por meio da área de telecomunicações - prepara-se para transportar também álcool. Junto com produtores do Estado do Paraná, a companhia trabalha na conclusão de um projeto que prevê a construção de um alcoolduto com 528 quilômetros de extensão da região de Maringá, no Noroeste, até o porto de Paranaguá. Os investimentos deverão somar R$ 630 milhões e, por força de lei estadual, a Copel precisa ser majoritária em todos os negócios em que se envolve. A indústria sucroalcooleira planeja ter 25% do consórcio que será formado e que poderá contar com outros investidores, como a Compagas, concessionária de gás que tem como sócias a Copel, a Mitsui Gás e a Gaspetro.
O alcoolduto foi incluído pelo governo local na Política de Desenvolvimento Econômico, batizado de PAC do Paraná . A construção dele é uma reivindicação antiga dos produtores, que desde a gestão passada contam com a parceria do estado no Programa de Expansão Sucroalcooleiro. De um lado houve o comprometimento para ampliação do número de empregos e na produção de álcool. Do outro, apoio no acesso a investimentos e melhorias na infra-estrutura.
Os acordos estão sendo cumpridos. De 2003 pra cá, a área plantada com cana saltou de 350 mil hectares para 525 mil hectares. E R$ 13,7 milhões foram investidos na construção de um terminal público de álcool em Paranaguá. A instalação tem sete tanques com capacidade de armazenamento de 35 milhões de litros e está pronto pra ser inaugurado. O alcoolduto fazia parte do programa , disse o vice-presidente da associação dos produtores (Alcopar), Ricardo Rezende, que é presidente da Sabarálcool, uma das maiores empresas do segmento do Paraná.
No ano passado, o governo paranaense, sócio majoritário da Copel, encomendou um estudo de viabilidade técnica e econômica. Nosso levantamento mostra que ele é factível , contou ao Valor o diretor de gestão corporativa da companhia de energia, Luiz Antonio Rossafa. Segundo ele, o projeto prevê o uso de dutos com 12 polegadas e de aço carbono. Outra possibilidade em estudo é o uso de polietileno de alta densidade, o que poderia reduzir custos. Empresas como a Tigre, que faz tubos e conexões, estão acompanhando os trabalhos como observadoras.
A equipe que desenvolve o projeto pretende concluí-lo em breve, tanto a parte técnica como a participação dos sócios - e existe a expectativa de que ele seja encaminhado para a Assembléia Legislativa do Estado do Paraná ainda em 2007. O principal argumento a ser usado para a aprovação é a necessidade de investir em um segmento estratégico para o Estado do Paraná. Depois será necessário obter licenças ambientais e licitar as obras.
O governo espera que o alcoolduto esteja pronto em 2010. Para bancar os investimentos a Copel planeja obter financiamentos do BNDES. Sobre o fato de a companhia passar a lidar com álcool, o executivo disse que ela é uma empresa de energia, não importando se ela vem de hidrelétricas, de usinas de cana ou do gás natural. Será a primeira experiência da empresa cinqüentenária com energia líquida.
O trajeto a ser seguido pelo combustível está definido. Nos primeiros 250 quilômetros, de Maringá a Jaguariaíva (região Central), o alcoolduto passará por baixo das linhas de transmissão da Copel. Até o município de Doutor Ulisses, na região metropolitana de Curitiba, ele terá mais 83 quilômetros e será construído ao longo da rodovia estadual PR-092. Depois seguirá mais 100 quilômetros próximo aos dutos da Gasbol, até Araucária. Por fim, outros 95 quilômetros serão ao longo da faixa do duto da Olapa, que a Refinaria Getúlio Vargas possui até Paranaguá. Esse traçado deve facilitar a obtenção das licenças ambientais , prevê o engenheiro Sérgio Fedalto, um dos coordenadores dos estudos de pré-viabilidade.
Os dutos terão capacidade para transportar 300 mil metros cúbicos de álcool por mês, o dobro da produção atual do Estado do Paraná. Rezende, da Alcopar, prevê que em três anos a produção paranaense saltará dos atuais 1,8 milhão de metros cúbicos anuais para perto de 3 milhões de metros cúbicos. Os produtores pagarão pelo transporte e não está descartada a busca de usuários de São Paulo e Mato Grosso do Sul, que poderão reduzir trajetos rodoviários.
Rezende explicou que hoje o álcool é levado a Paranaguá por meio de rodovias e ferrovias e depois é usado em carburantes, medicamentos, bebida e indústria química. Com o alcoolduto, que além de facilitar a exportação transportará combustível para ser usado no Paraná e estados vizinhos, ele estima redução nos custos de transporte em 70%. Ele disse que o Estado do Paraná possui 31 usinas, mas ainda não está confirmada a participação de todas no projeto. Vamos ver quais se interessarão em investir.
As definições, adiantou, serão tomadas até a reunião que deverá acontecer em agosto na Copel, em Curitiba (PR). O executivo informou que os investimentos devem ser amortizados no prazo de 10 a 12 anos.
Dono de um parque gerador formado por 17 hidrelétricas e uma termoelétrica, a Copel tem 4.550 megawatts de potência instalada e teve lucro líquido de R$ 1,243 bilhão em 2006, ante R$ 502 milhões em 2005. Sua receita operacional líquida foi de R$ 5,38 bilhões, 11% maior sobre o exercício anterior. No PAC do Paraná será dela o maior investimento entre as estatais - o total de R$ 4,68 bilhões até 2010.
(Por Marli Lima,
Valor Econômico, 30/07/2007)