O clima é de terror dentro e fora da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema). Antes elogiada pelo governador Blairo Maggi como uma pasta modelo, hoje ela está, não apenas desgastada pela seqüência de denúncias de corrupção, como também pela inoperância de seus dirigentes. Funcionários que preferem ficar no anonimato alertam que a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) vai ser usada para encobrir as “tramóias” que um ex-prefeito do interior de Mato Grosso fazia dentro da Sema. O homem seria simplesmente afilhado de dois deputados.
O medo, no entanto, toma conta da Sema, cujos funcionários são vigiados, para não falar. A vigilância, segundo eles, vai desde a colocação camuflada de microfones para ouvir conversas até câmaras para gravar quem se atreve a fazer denúncias.
Além de vigiados, quem se atreve a abrir a boca ganha como “presente”, além de ameaças de exoneração dos postos de chefia, a transferência para outros órgãos da administração pública. Ou, se preferir, uma pequena viagem de dois anos ou mais para o interior do Estado.
Em 25 de maio desde ano, o advogado Cezar Augusto D’arruda, superintendente de Assuntos Jurídicos da Sema, em documento assinado por ele e mais dez advogados do órgão, encaminhou ofício ao secretário Luiz Henrique Daldegan, com cópias para o Ministério Público Estadual (MPE).
O documento relatava irregularidades dentro da Sema. Entre os atos ilícitos, um falava sobre o sumiço de processos. Antes um funcionário, no entanto, já havia feito uma outra denúncia ao governador Blairo Maggi.
O terror na Sema é tão evidente, que até a reportagem se assustou com o medo de um funcionário, que tremia ao ser interpelado sobre um assunto que nada tinha a ver com as denúncias contra a Sema.
“Eles estão filmando tudo. Estão fotografando e colocando microfones camuflados em mesas para ouvir o que a gente está falando. Eu não quero perder o meu emprego, muito menos morrer. Vocês não têm idéia do que essa gente é capaz”, falou com a voz trêmula o assustado funcionário. Depois ele saiu andando apressadamente.
Além das denúncias de corrupção, a incompetência da Sema em agilizar processsos de projetos e manejos foi admitida em público pelo próprio governador Blairo Maggi em recente ida à cidade de Sinop (Norte, a 500 km de Cuiabá).
Um funcionário confidenciou à reportagem, que a perseguição, também já amplamente denunciada, inclusive com a colocação de faixas pelas ruas do Centro Político Administrativo (CPA), juntamente por onde o governador passa, está aliada à incompetência da Sema.
“Não se pode trabalhar em clima de terror. É perseguição para todos os lados. Além do que, para se fazer as coisas certas, é preciso tempo, e aqui dentro atualmente nós não temos tempo nem para respirar”, denuncia.
O mesmo funcionário denuncia um mex-prefeito de Mato Grosso como um dos cabeças de uma suposta organização criminosa que funcionaria dentro da Sema. Era ele, segundo o funcionário, o encarregado pelos atos ilícitos para liberar, pelo menos cinco grandes “projetos frios” na região Norte de Mato Grosso.
Para concluir, o funcionário alerta: “Não acredito que a CPI vá chegar a lugar algum. Acho até que a CPI veio mesmo foi para tapar o sol com peneira. Até porque, a primeira medida a ser tomada, era ter afastado o secretário, pois ele pode, não apenas influenciar as testemunhas, mas também sumir com as provas que forem necessárias”.
O secretário da Sema, Luiz Henrique Daldegan foi consultado para dar sua versão às denúncias, mas mandou avisar que não iria conversar com a reportagem.
(Por José Ribamar Trindade,
24 Horas News, 29/07/2007)