A Argentina e o Uruguai retomaram o diálogo direto para tentar superar as diferenças relativas à instalação de uma fábrica de celulose às margens do rio Uruguai, localizado na fronteira natural entre os dois países. As duas delegações chegaram separadamente à sede da ONU, em Nova York, onde ocorrem as negociações, sem conceder declarações à imprensa. Cada país realizou uma reunião prévia com o embaixador da Espanha junto à ONU, Juan Antonio Yáñez-Barnuevo, que é mediador da causa em nome do rei Juan Carlos da Espanha. Em seguida, os dois se sentaram para iniciar uma segunda rodada de diálogos técnicos.
Na agenda desta reunião - prevista para terminar no dia 31 de julho - figuram três aspectos: a localização da fábrica de celulose, as interrupções nas estradas entre os dois países e a proteção do meio ambiente na zona fronteiriça. A delegação do Uruguai é liderada pelo diretor-geral do Ministério das Relações Exteriores do país, José Luis Cancela, ao tempo que a argentina tem à frente a diretora-geral da Secretaria Legal da Chancelaria, Susana Ruíz Cerutti.
Embora as negociações transcorram a portas fechadas, fontes governamentais declararam em Buenos Aires que os técnicos presentes nas negociações reforçarão seus argumentos em favor da realocação da fábrica de celulose. Segundo essas mesmas fontes, os técnicos desejam que o tema do local da construção centre a discussão, apesar de 95% da instalação já estar concluída.
A Argentina argumenta que a construção da fábrica da empresa finlandesa Botnia, na cidade de Fray Bentos, às margens do rio Uruguai, "põe em risco o ecossistema da região". A espanhola Ence desistiu de construir uma fábrica similar nessa região, por causa da polêmica, que chegou a causar o bloqueio das estradas que ligam Uruguai e Argentina.
A Argentina recorreu ao Tribunal de Haia no ano passado, após o Uruguai ter dado sinal verde para a construção da fábrica finlandesa. O Governo argentino considera que a fábrica representa "uma grave ameaça" ao sistema fluvial compartilhado entre os dois países. No entanto, o Uruguai nega que a fábrica de celulose represente algum tipo de risco. O país também recorreu à mesma instância internacional para denunciar os bloqueios de estradas.
O tribunal internacional refutou o recurso uruguaio, enquanto o argentino ainda está em trâmite. A Botnia declarou, na semana passada, que a construção da fábrica está praticamente concluída, com 95% dos trabalhos prontos, e que por isso poderia entrar em funcionamento já no final de agosto ou início de setembro. O conflito começou há três anos, e levou as relações entre os dois países ao ponto mais baixo em décadas.
Após várias negociações bilaterais fracassadas, os presidentes da Argentina, Néstor Kirchner, e do Uruguai, Tabaré Vázquez, finalmente solicitaram a mediação do rei Juan Carlos da Espanha, durante a última Cúpula Ibero-Americana, realizada em Montevidéu, em novembro de 2006. O entendimento para iniciar um diálogo direto foi alcançado em fevereiro, e serviu de prévia para a reunião que as delegações dos dois países realizaram em 18 de abril, em Madri, na qual concordaram em continuar com as negociações em Nova York.
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Efe, 30/07/2007)