O canto dos pássaros curicacas é o prenúncio de que os turistas se aproximam do Pico do Monte Negro, o ponto mais alto do Rio Grande do Sul. Com 1.403 metros, o monte é considerado pela população como o tesouro de São José dos Ausentes. E, por isso, uma proposta de transformar o local em unidade de conservação, para protegê-lo da degradação causada pelo homem, é a polêmica que periodicamente surge entre os ausentinos.
O projeto da Fundação Zoobotânica (FZB) do Estado foi idealizado em 2004. Segundo a diretora do Museu de Ciências Naturais da FZB, Maria de Lourdes Abruzzi de Oliveira, as espécies da flora e da fauna que só ocorrem na região dos Aparados da Serra já justificariam a criação da área.
Ela lembra que no Monte Negro é possível encontrar uma grande quantidade de atributos naturais, como árvores da espécie araucárias e pássaros como o curicaca - símbolo de São José dos Ausentes.
- A área merece um cuidado especial, principalmente para que se possa manter um turismo sustentável - explica Maria de Lourdes.
Contudo, os donos de pousadas e a própria prefeitura não concordam com a implementação do projeto. O secretário municipal de Turismo e Cultura de Ausentes, Aécio Boeira, explica que ações de preservação estão sendo feitas em conjunto com as pousadas nos últimos anos. Ele lembra que no início dos anos 1980, a própria comunidade se reuniu para que a vegetação do pico, à época em degradação, fosse restaurada. Hoje, ele acredita que a forma de gestão está conseguindo manter a beleza do local.
- Estamos aprontando o Plano Diretor Urbano e Rural do município e está prevista essa possibilidade de deixar a área reservada para que seja implantada uma unidade de conservação. Vamos levá-lo à consulta popular ainda neste ano. Mas não será um parque que vai melhorar o local - antecipa Boeira.
Ele explica que há pelo menos dois anos existe um acordo entre as pousadas e a prefeitura em que medidas de preservação. Atualmente, o acesso ao local é livre, mas não é possível acampar no pico nem chegar de carro. É preciso fazer uma caminhada de 200 metros para chegar próximo ao cume, hoje revestido de araucárias.
Segundo Boeira, cerca de 150 pessoas passam por lá nos finais de semana e feriados de inverno, a alta temporada da região.
Os aparados
Os Aparados da Serra foram formados por sucessivos e longos derrames de lava, ocorridos entre 340 milhões a 200 milhões de anos atrás. Na época, o sul do Brasil fazia parte de um imenso continente (a Gondwana), que incluía a África de hoje. Com a separação dos continentes e o surgimento do Oceano Atlântico, ocorreram numerosas falhas na porção oriental dos atuais Estados do sul do Brasil. A lava cobriu 1,2 milhão de quilômetros quadrados, desde Mato Grosso do Sul até o Rio Grande do Sul.
(
Pioneiro, 30/07/2007)