Um levantamento realizado pela Comissão Estadual de Erradicação do Trabalho Escravo (Coetrae), do Maranhão, constatou que, desde o ano passado, mais de 1,3 mil pessoas libertadas do trabalho escravo saíram de cidades do estado, o que faz do estado o maior fornecedor de mão-de-obra escrava do país. Levantamentos como o da Ceotrae dão subsídios para a criação de políticas de combate a esta prática e incentivam a mobilização da sociedade civil para devolver dignidade a estas pessoas. Na cidade de Açailândia, localizada no Sul do Maranhão, parte dos seus cerca de 100 mil habitantes já passaram pela cruel experiência do trabalho escravo. Desde 2006, a Cooperativa para Dignidade do Maranhão (Codigma) tem tentado mudar a realidade de ex-escravos da região através de um trabalho de resgate social, funcionando também como uma alternativa de fonte renda.
Criada pelo Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos de Açailândia (CDVDH), a cooperativa pretende garantir uma vida decente aos moradores do município sob risco de caírem em situação de escravidão. Para isso, ela trabalha com dois núcleos de produção - de brinquedos educativos e outro de carvão ecológico - que juntos beneficiam aproximadamente 100 pessoas direta e indiretamente.
Direcionados a meninos e meninas de dois a dez anos, os brinquedos da Codigma são feitos com madeira que provém de retalhos descartados pelas serrarias da região. A pintura, por sua vez, é atóxica, o que garante segurança às crianças. De acordo com o coordenador da Codigma, Rogério da Silva, cerca de 40% dos trabalhadores envolvidos na produção dos brinquedos já foram libertados de situações análogas à de escravidão durante fiscalizações realizadas por auditores do trabalho.
A preocupação com a natureza também é uma das prioridades da cooperativa. O carvão produzido pelo núcleo é obtido a partir da mistura de resíduos de carvão vegetal rejeitados pela indústria siderúrgica local, com argila e fécula de mandioca. A mistura natural resulta em um carvão ecologicamente correto, diminuindo sensivelmente os níveis de poluição do ar.
Hoje, cada trabalhador da Codigma recebe uma bolsa de 150 reais, através de recursos repassados pelo CDVDH. Mas como o objetivo da cooperativa é fornecer uma alternativa, não apenas para a garantia de renda, mas também de inclusão social, todos os que trabalham nos núcleos recebem treinamento para trabalhar com madeira, aulas de alfabetização, de cooperativismo e noções de cidadania.
Neste ano, pelo menos mais dois núcleos devem ser consolidados: produção de Papel Reciclado e de Materiais de Limpeza. O objetivo da cooperativa é tornar-se uma organização auto-sustentável, capaz de converter-se em uma alternativa consolidada de renda para os participantes.
As matérias sobre Economia Solidária são produzidas com o apoio do Banco do Nordeste do Brasil (BNB)
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Adital - Agência de Informação Frei Tito para a América Latina, 27/07/2007)