O canto dos pássaros curicacas é o prenúncio de que o frio intenso, a neve e, conseqüentemente, os turistas estão se aproximando do Pico do Monte Negro, o ponto mais alto do Rio Grande do Sul.
A 1.403 metros de altitude, o monte, localizado em São José dos Ausentes, nos Campos de Cima da Serra, é considerado o tesouro do município. Uma proposta de transformar o local em unidade de conservação para protegê-lo da degradação é a polêmica que periodicamente surge entre os ausentinos.
O projeto da Fundação Zoobotânica (FZB) do Estado foi enviado em 2004 para ser incluído no Programa da Ação para o Desenvolvimento Integrado do Turismo Sul (Prodetur-Sul) – que envolve Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso do Sul. O pico está em terras de proprietários de pousadas.
Segundo a diretora do Museu de Ciências Naturais da FZB, Maria de Lourdes Abruzzi de Oliveira, os sítios arqueológicos e as espécies da flora e da fauna que só ocorrem naquela região já justificariam a criação da área. Ela lembra que no Monte Negro estão muitos atributos naturais, como árvores araucárias e pássaros curicaca, o símbolo de São José dos Ausentes.
– A área merece cuidado especial, para que se possa manter um turismo sustentável – diz Maria de Lourdes.
Contudo, donos de pousadas e a prefeitura não concordam com a implementação do projeto, porque afirmam que a preservação ambiental já é feita. O secretário municipal de Turismo e Cultura de Ausentes, Aécio Boeira, diz que essas ações são realizadas em conjunto com as pousadas. Ele acredita que essa forma de gestão mantém a beleza do local.
– Estamos aprontando o Plano Diretor Urbano e Rural do município, e está prevista a possibilidade de deixar a área reservada para que seja implantada uma unidade de conservação. Mas, não será um parque que vai melhorar o local. Vamos levá-lo à consulta popular neste ano – diz Boeira.
Ele explica que há pelo menos dois anos existe um acordo entre as pousadas e a prefeitura em que foram adotadas medidas de preservação. Hoje, o acesso ao local é livre, mas não é possível acampar no pico nem chegar de carro. É preciso caminhar por 200 metros para chegar próximo ao cume, hoje revestido de araucárias. Segundo Boeira, cerca de 150 pessoas passam por lá nos finais de semana e feriados de inverno.
(Por Gustavo Souza,
Zero Hora, 29/07/2007)