Recolher, separar e armazenar a palha e o bagaço da cana-de-açúcar têm sido tarefas desafiadoras para os produtores no setor sucroalcoeiro, diante da tendência atual de usar também essas matérias-primas na geração de energia. Para Suleiman Hassuanni, coordenador de pesquisa tecnológica do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), usar a palha é aproveitar o máximo de biomassa da cana, tanto para a produção de biodiesel como para ser usado como energia para alimentar a usina. É preciso, no entanto, definir o modo mais fácil e barato de fazer esse aproveitamento.
“De cada tonelada de cana, 140 quilos são de palha. Trata-se de um poder calorífico que não pode ser desprezado”, disse Hassuanni à Agência FAPESP durante o 5º Simpósio Internacional e Mostra de Tecnologia da Agroindústria Sucroalcooleira (Simtec), realizado na semana passada em Piracicaba, interior de São Paulo.
Ele cita algumas técnicas de recolhimento, como o uso de máquinas que fazem o fardamento da palha, ou de forrageiras, que as aspiram. Mas, enquanto o fardamento necessita de outras máquinas para recolher os fardos posteriormente, as forrageiras trazem junto 10% de terra, tornando necessário o trabalho de separá-la da palha.
Outra opção seria separar a palha e a cana-de-açúcar no ato da colheita, mas isso forçaria a colheitadeira a fazer uma função que não é a dela. As pesquisas do CTC apontaram para a solução mais viável. “O conceito que estamos desenvolvendo é o de trazer a palha junto com a cana, não sendo necessário mudar as funções das máquinas”, explicou Hassuanni.
Na usina é feita a limpeza a seco da cana-de-açúcar – um sistema de ventiladores separa a cana e a palha para diferentes esteiras. A palha segue por uma peneira que retira a terra. Esta, por sua vez, é devolvida ao campo, passa por um triturador e é compactada.
“No passado, não havia valor para a palha, que era queimada no campo. Mas, hoje, a palha tem um grande valor como combustível”, destacou Hassuanni, informando que o custo para carregar a palha junto com a cana é de US$ 14 por tonelada seca, o mais baixo dentre as alternativas analisadas pelo CTC.
Energia estocadaOutro grande problema é armazenar o bagaço, que pode fermentar e prejudicar todo o estoque. Por isso, a prática é queimá-lo tão logo chegue à usina. “É um desperdício usar o bagaço úmido para alimentar as caldeiras”, disse Isaac Ruben, do setor de bioenergia da Sume2, empresa que fabrica briquetes do bagaço da cana-de-açúcar.
Ruben apresentou no Simtec um processo de compactação, cuja patente saiu no início do ano e que pode reduzir em até dez vezes o volume dessa matéria-prima. “Todo o processo ocorre dentro da usina e resolve o problema de estocagem”, afirmou, destacando que o bagaço seco não corre o risco de fermentar.
Após o processo de secagem, o bagaço é picado e levado a uma moenda que alimenta um compactador. São feitos, então, bastões de 38 milímetros de diâmetro, cuja densidade varia de 500 a 600 kg/m³. Segundo Ruben, esses bastões, batizados de bripell, funcionam como uma reserva de energia que pode ser estocada ou ainda vendida como um produto. “Como é possível administrar o espelho d’água de uma hidrelétrica para produzir energia quando for mais conveniente, também podemos guardar os briquetes e usá-los quando for necessário”, resumiu Ruben.
(Por Murilo Alves Pereira,
Agência Fapesp, 25/07/2007)