Apesar de águia no cardápio parecer impensável nos EUA, na Austrália o já ameaçado canguru é normalmente encontrado em churrascos ou fritos com vegetais. Quando a Suprema Corte da Califórnia baniu a venda de chuteiras de futebol com pele de canguru na decisão de um processo, os australianos aqui se perguntaram por quê.

“Cangurus são como coelhos na Austrália”, disse Kalee StClair, que é de Sidney e mora aqui há mais de quatro anos. “Eles não são nem um pouco protegidos, e na verdade é estimulado matá-los. Eu acho que eles são muito bonitinhos. A Califórnia adora animais bonitinhos. Olha como eles vestem os cachorros aqui”. Sapatos com couro de canguru são preferidos dos jogadores de futebol que querem curvar como Beckham, embora David Beckham tenha mudado para uma alternativa sintética ano passado sob pressão de grupos de direitos dos animais. Os sapatos, incluindo o Adidas Predator, são US$ 200 mais caros do que um par de chuteiras normais, e atletas dizem que elas aumentam a mobilidade e o conforto.

Couro de canguru foi banido na Califórnia em 1971 para proteger os animais. Como o canguru não está mais ameaçado, a Adidas disse que a proibição entrava em conflito com políticas federais que pretendiam ajudar a Austrália a controlar sua população. Uma porta-voz da empresa, Andrea Corso, disse que ela não considerava a lei como uma ordem para parar de vender as chuteiras na Califórnia. Ela disse que a empresa iria continuar a vender as chuteiras até que todas as questões no processo tenham entrado em acordo.

O consul geral australiano aqui, Innes Willox, disse que ele estava trabalhando em Sacramento para aprovar uma lei que permita produtos de canguru. Ativistas pelos direitos dos animais disseram que espécies ameaçadas são mortas durante abates junto com espécies superpopuladas. Willox disse que espécies ameaçadas são muito menores do que os abates de cangurus cada ano.

“A população de cangurus está entre os 15 milhões e 50 milhões, e isso é em grande parte possível por causa das condições climáticas”, disse Willox. “A seca do momento está tendo um grande impacto na população. “Eles são metade de nosso símbolo. Então não estamos prestes a ameaçá-los. Reconhecemos nossa responsabilidade”. A outra metade do símbolo é a ema, que como o canguru, é conhecida por não conseguir andar para trás, disse Willox.

O grupo de direitos animais que processou a Adidas, Viva, disse que milhões de cangurus são mortos todo ano no que “é amplamente conhecido como o maior massacre de vida selvagem do planeta”. Uma advogada da Viva, Orly Degani, disse que ela planejava buscar um mandado para forçar a Adidas a parar de vender essas chuteiras. Degani também disse que ela iria incentivar o promotor geral, Edmund G. Brown Jr, da Califórnia, a processar a Adidas. Um porta-voz de Brown, Gareth Lacy, disse que seria prematuro decidir os próximos passos e que oficiais estavam estudando o caso.

Leigh Broadbent, um produtor australiano que mora aqui, disse que ele apoiava grupos de direitos dos animais, mas não proteger os cangurus. “Eles têm um abate anual de cangurus, ou talvez a cada dois anos, para manter os números baixos e proteger o ecossistema”, disse Broadbent. “Por que não? Qual o grande problema na Califórnia?” Jason Bottrel, um empresário australiano baseado em Long Beach, disse que ele cresceu jogando futebol em chuteiras com couro de canguru. “Sem o abate”, disse Bottrel, “os cangurus iriam morrer de fome”.
(Por Regan Morris, The New York Times, 26/07/2007)