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desmatamento
2007-07-27

A Nigéria enfrenta um paradoxo. É o sexto produtor mundial de petróleo, mas seus habitantes dependem da madeira para ter combustível. Musa Amiebinomo, funcionário do Departamento de Silvicultura, disse que aproximadamente 70% da população deste país de mais de 140 milhões de habitantes vivem em áreas rurais e dependem de recursos florestais, especialmente a madeira, para atender suas necessidades domesticas de energia. Isto provoca a destruição das florestas, agravada pelo corte comercial ilegal.

O informe “Estado das florestas do mundo”, divulgado em 2005 pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), diz que entre 1990 e 20005 a Nigéria perdeu 37,5% de suas áreas florestais. O ambientalista Boniface Egboka, decano da Escola de Estudos de Pós-graduação da Universidade de Anambra, afirmou que o uso predominante de lenha como combustível esta ligado à crescente corrupção no poder.

“A Nigéria ainda depende deste recurso, embora tenhamos gás e petróleo em abundância, porque nossos líderes são fraudulentos e corruptos. Não lhes importa o bem-estar dos habitantes e, portanto, permitem que as árvores sejam cortadas”, disse Egboka à IPS. “Não há nenhuma razão para usar lenha. Temos os recursos humanos e financeiros para levar gás às residências. Estamos desmatando toda a zona norte do país por causa do corte de árvores para serem usadas com combustível”, acrescentou.

A primeira lei sobre uso das florestas na Nigéria foi aprovada pelas autoridades coloniais britânicas em 1937. Estabeleceu um sistema de reservas florestais que admitia a exploração de determinadas áreas por companhias ou pessoas que tivessem licença para isso. Replantar erra a ferramenta prevista para evitar o desmatamento. A política nacional agrícola adotada em 1988 buscou expandir o uso sustentável dos recursos florestais e expandir as áreas de floresta para 20% do território nacional. Segundo o informe da FAO, até o momento só foram cobertos 12,2%.

Não existem leis contra o corte de árvores para combustível salvo em áreas protegidas. O corte de palmeiras, mangueiras e árvores de cacau está controlado por meio de regulamentações comunais devido ao seu valor econômico. Mas as leis demonstraram ser impotentes para preservar as florestas da Nigéria. “Há áreas de floresta denominadas zonas prioritárias ou de conservação natural, onde o corte está totalmente proibido. Mas, não se respeita a lei e nada acontece com que desmata ilegalmente”, disse o coordenador do Centro Regional para o Sistema de Informação e manejo Ambiental da Universidade de Lagos, Peter Nwilo. Inclusive, mesmo quem tem licença de exploração age ilegalmente, cortando árvores de todos os tamanhos, incluindo as consideradas muito jovens para o corte.

Entretanto, as autoridades que concede a permissão continuam renovando-as, segundo se diz, por causa dos subornos pagos pelas companhias madeireiras. O presidente da não-governamental Fundação de Conservação Florestal de Nigéria, Philip Asiodu, disse que “não se trata de um problema de ausência de legislação adequada, políticas ou programas, mas, simplesmente, da falta de vontade e disciplina para fazê-las cumprir por parte de uma burocracia corrupta”. Os cortadores ilegais enviam a madeira ao exterior, especialmente para a Ásia. Algumas das toras são vendidas a serrarias locais, que produzem tábuas para fabricantes de móveis e empresas construtoras.

O desmatamento é especialmente grave nas zonas central e setentrional do país, o que provocou a erosão e a desertificação do solo. Foi amplamente informado que por esta razão perde-se 350 mil hectares por ano. Qual é a solução? Um anteprojeto governamental, “Visão 2010”, contendo metas de desenvolvimento a serem alcançadas nesse prazo, sugere medidas entre as quais estão a proibição das exportações, incentivos para o investimento privado, maior participação comunitária no manejo das florestas e o fomento para reflorestamento de espécies que dêem frutos, resinas ou outros bens de valor econômico para as comunidades.

Este anteprojeto também propõe a promoção e o desenvolvimento de outras fontes de energia que substituam a madeira, com a solar e a eólica, bem como o uso de gás e carvão. Em 1999, as autoridades iniciaram planos para fornecer gás natural para uso comercial e domestico, mas até o momento apenas um punhado de áreas industriais nesta capital foram beneficiadas com esta medida. “Estamos procurando fazer levar gás às industrias. Os usuários residenciais serão atendidos mais tarde, porque temos de planejar a rede de conexão. A maioria das zonas residenciais de Lagos não esta bem planejada, por isso fornecer gás para uso domestico é um pouco complicado”, disse um funcionário da companhia Gaslink de gás.

Isto significa que aqueles que desejam usar gás em suas casas estão obrigados a comprar botijões que custam cerca de US$ 21 para uso em seus fogões à gás, que podem ser comprados por preços entre US$ 80 e US$ 165, fora do alcance de muitos. Segundo o Informe de Desenvolvimento Humano 2006, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, 70,8% dos nigerianos vivem com menos de um dólar por dia e 92,4% com menos de dois dólares ao dia. “Não lembro quando usei pela última vez meu fogão à gás. Ainda tenho dois botijões, à espera do dia em que o gás será mais barato”, disse à IPS a professora Caroline Akande, que vive em um subúrbio desta cidade. “Agora uso um fogão que funciona com querosene e outro elétrico, quando há eletricidade”, acrescentou.

Devido à falta de medidas efetivas para preservar os recursos florestais da Nigéria, muitas áreas do país podem experimentar o que já viveu a aldeia de Ogori, na província central de Kogi. “Nos anos 60 íamos à floresta que rodeava nossa vila para apanhar caracóis ou colocar armadilhas para roedores e outros animais”, disse à IPS o professor John Atere. “Mas, não há mais floresta. Os caracóis e outros animais silvestres desapareceram”, acrescentou.
(Envolverde, 25/07/2007)

 


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