Grandes comercializadores de soja, entidades da sociedade civil e membros do governo estiveram reunidos ontem (24), em São Paulo, para celebrar e avaliar o período de um ano do que ficou conhecido como Moratória da Soja. Em 2006, após pressão de entidades ambientalistas, a Associação Brasileira de Óleos Vegetais (Abiove) e a Associação Nacional de Exportadores de Cereais (Anec) anunciaram que não comercializariam, por um período inicial de dois anos, soja oriunda de novos desmatamentos na Amazônia.
Além de representantes das duas entidades, o encontro contou com a presença do Secretário de Meio Ambiente de São Paulo, Francisco Graziano Neto, Johanes Eck, da Casa Civil, e membros das empresas Cargill, Amaggi, Bunge e ADM. Organizações como Greenpeace, Conservação Internacional, WWF- Brasil, Amigos da Terra - Amazônia Brasileira, Imazon, IPAM, Imaflora, Articulação Soja-Brasil e Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santarém também compareceram.
Segundo Tatiana de Carvalho, engenheira agrônoma da Campanha Amazônia, do Greenpeace Brasil, entidade à frente da iniciativa, "a Moratória consolida uma parceria da sociedade civil e da indústria da soja, que sempre estiveram em lados opostos, em busca de uma solução para o desmatamento ocasionado pelo plantio do grão".
Durante esses 12 primeiros meses, a principal conquista foi o desenvolvimento de um sistema de monitoramento e controle, que deve ser implementado já na safra plantada em setembro deste ano. Parte do controle vai ser feito por meio de um mapa, elaborado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que irá comparar a situação do desmatamento imediatamente após o anúncio da moratória e agora. A partir de então, serão avaliados se novos desmatamentos foram ocasionados pelo plantio de soja e se os grãos oriundos desses locais foram ou não comercializados pelos participantes do acordo.
Mas a iniciativa ainda tem muitos desafios pela frente. Um deles é a ausência de mapeamento das áreas de plantio de soja na Amazônia, instrumento essencial no monitoramente e na contenção do desmatamento. Segundo o Incra, um cadastramento único das áreas rurais da região deve ser concluído em 2011. Enquanto isso, o governo federal se comprometeu a desenvolver um sistema de licenciamento ambiental das propriedades rurais que sirva a todos os estados da Amazônia Legal.
NúmerosEntre agosto de 2006, quando foi decretada a Moratória, e maio deste ano, o Mato Grosso, maior produtor de soja do Brasil, apresentou uma queda de 40% no ritmo de desmatamento. Já no Pará, houve uma queda de 41% na área destinada ao plantio de soja.
Para Tatiana, porém, é preciso cautela nas comemorações. "Não temos dúvida nenhuma que os fatores econômicos são uma grande contribuição para essa queda. A queda do dólar, o endividamento do setor, o aumento do preço dos combustíveis são fatores que não podemos desprezar. Agora, com previsão de aquecimento do mercado da soja, é que a moratória vai ter que mostrar ainda mais eficiência".
Apoio paulistaMostrando comprometimento com a preservação da floresta amazônica, o Secretário de Meio Ambiente de São Paulo assegurou que já na primavera deste ano, a polícia ambiental do estado controlará todas as fronteiras paulistas para impedir a entrada de madeira ilegal vinda da Amazônia.
(Por Renata Gaspar,
Amazonia.org.br, 25/07/2007)