"É com vontade de Justiça e Direito pela vida que as comunidades quilombolas do Sapê do Norte caminham para o terceiro dia da retomada do Quilombo de Linharinho. Não se trata de um acampamento e sim da construção permanente do nosso quilombo". Este é um trecho da manifestação dos negros descendentes dos escravos do norte capixaba, que retomaram uma parte de seu território da Aracruz Celulose.
Os negros divulgaram o "Informativo Quilombo Linharinho nº 01". Datado de julho de 2007, o texto aponta a consolidação da retomada da área. Cerca de 500 quilombolas e seus apoiadores estão na área desde segunda-feira (23). Linharinho fica no quilômetro 5 da estrada Conceição da Barra - Itaúnas.
Diz o informativo que "está sendo vitoriosa a retomada do Território Quilombola de Linharinho, na Região do Sapê do Norte, Espírito Santo. Área que foi invadida e tomada pelo monocultivo de eucalipto da Aracruz Celulose, multinacional que se diz a principal protagonista do desenvolvimento do Estado. Por mais de 40 anos a maior produtora mundial de celulose branqueada vem causando graves, e talvez irreversíveis, danos ao meio ambiente e ao saber tradicional existente no território ancestral dos quilombolas".
E que "é com vontade de Justiça e Direito pela vida que as comunidades quilombolas do Sapê do Norte caminham para o terceiro dia da retomada do quilombo de Linharinho. Não se trata de um acampamento e sim da construção permanente do nosso Quilombo".
Apontam que "desde o primeiro dia de mobilização os esforços estão sendo direcionados para o fortalecimento da identidade quilombola. No quilombo foi feita uma área de plantação de mudas nativas da mata atlântica, de plantas e ervas medicinais, uma cozinha comunitária, além de uma área de lazer para as crianças. A programação cultural está sendo realizada sob uma tenda de circo, onde ocorrem atividades tradicionais da comunidade como: cantigas, danças, jongo, rodas de histórias e exibição de vídeos que têm como tema a resistência a este modelo de desenvolvimento predatório e destruidor".
O Quilombo Linharinho é apontado como "a essência do fortalecimento da identidade quilombola, sendo o primeiro território de quilombo a ser homologado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) no Espírito Santo, dentre mais de 2.000 áreas já identificadas em todo o território nacional. Por isso a importância e os esforços dedicados nesta ação política".
Os quilombolas já estão modificando a paisagem de Linharinho. "O Vale do Córrego do São Domingos já pode ser visto novamente, o que tem despertado as memórias e historias do nosso lugar", cita o Informativo.
E apontam que "é com uma enorme e incontrolável vontade de mudança da paisagem coberta pelo deserto verde provocado pelas plantações de eucalipto, da qualidade da água poluída pelos venenos aplicados nas plantações, dos espaços ocupados e do modo de viver tradicional, há muito impedido de ser vivido, que as Comunidades Quilombolas do Sapê do Norte se empenham e resistem, mais uma vez, no nosso seu território".
Depois de prometer ainda mais animação com "diversas atrações culturais", os quilombolas da região são chamados a participar. Seus autores encerram assim: "O quilombo Linharinho renasce e convoca à luta!"
(Por Ubervalter Coimbra,
Século Diário, 26/07/2007)