Aracruz promete transparência na quadruplicação da fábrica em Guaíba (RS), ambientalistas aguardam acesso ao EIA/Rima
celulose e papel
aracruz/vcp/fibria
2007-07-26
A Aracruz Celulose, líder mundial em produção de celulose branqueada de eucalipto, prepara a quadruplicação da planta localizada no município de Guaíba (RS). Para colocar em prática o projeto, foi entregue à Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o respectivo Relatório de Impacto Ambiental (Rima) do empreendimento. De acordo com a empresa consultora que elaborou o estudo, a EcoÁguas, a tecnologia que será empregada para minimizar os danos ao meio ambiente é superior à utilizada atualmente.
Trata-se de um investimento de US$ 1,2 bilhão, com previsão de gerar cem empregos diretos, que espera passar de 450 mil para 1,8 milhão de toneladas a produção do insumo por ano. A expectativa da Aracruz é que o parecer sobre o estudo saia até o final do ano.
O EIA/Rima está na Fepam desde o dia 21 de junho. Segundo o coordenador de Pesquisa Tecnológica, Qualidade e Processo e gerente de Qualidade e Meio Ambiente da Aracruz, Clóvis Zimmer, o documento tem cerca de 900 páginas e foi desenvolvido durante oito meses. A fundação montou uma equipe de 12 técnicos para realizar a análise, sob a coordenação do engenheiro Renato Chagas, mas até agora não disponibilizou o estudo para o público. A fundação tem até o dia 15 de agosto para marcar uma reunião interna, na qual serão discutidos, entre outros pontos, a possibilidade de acesso público ao EIA/Rima.
De acordo com Zimmer, já foram desembolsados cerca de R$ 2,5 milhões com a engenharia conceitual que antecedeu o estudo, o EIA propriamente dito e um plano de comunicação que deve ser colocado em prática nos próximos meses. Sobre a intenção do plano, Zimmer explica que é divulgar para a população os dados do EIA e também questões relacionadas ao projeto de implantação da nova fábrica. “Será uma divulgação bem ampla, que vai abranger principalmente o município de Guaíba, mas também alguns bairros da Zona Sul de Porto Alegre”, esclarece.
Suspense
O engenheiro químico, especialista em Genética e ambientalista Flávio Lewgoy, ex-presidente da Agapan (Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural) e conhecido crítico das práticas da indústria de celulose, reclama do suspense na divulgação do Estudo de Impacto Ambiental. “Ninguém viu esse EIA/Rima até agora e todo mundo está querendo ver. Se se trata de tecnologia parecida com a que a Riocell tinha, será uma verdadeira calamidade”, assegura.
Lewgoy admite que não possui boas expectativas quanto aos impactos que o aumento na capacidade de produção poderá causar, principalmente devido ao histórico de atuação da fábrica. De acordo com ele, só tem havido contaminação do estuário e poluição até agora. “É uma respeitável massa de celulose. Só a queima do carvão já é um problema gigantesco, imagine quadruplicando.”
Impactos
O engenheiro ambiental que gerenciou o estudo, Nei Lima, da EcoÁguas, informa que o EIA/Rima prevê a redução do volume de carvão queimado para a produção de energia necessária para o funcionamento do empreendimento, através da criação de uma caldeira de biomassa. Além disso, segundo ele, o volume de água captada do Guaíba e a geração de efluentes por tonelada de celulose reduziriam drasticamente. Um dos fatores que tornaria isso possível seria a utilização de torres de refrigeração no sistema de resfriamento da fábrica.
Zimmer afirma que a tecnologia que será implantada, no que diz respeito às emissões aéreas, traz melhores condições de controle do que as que a empresa dispõe hoje. Em relação ao meio hídrico, embora esteja previsto o aumento de carga produzida, ele garante que não haverá alteração na qualidade da água do Guaíba. Acerca do ruído que a indústria emite, o coordenador informa que o EIA apresenta um capítulo específico sobre sistemas de abafamento e contenção.
Viagem prevista
Cinco dos 12 técnicos da Fepam que analisam o EIA/Rima da ampliação da capacidade produtiva em Guaíba devem fazer uma visita à Veracel – fábrica da Aracruz Celulose no Sul da Bahia – no próximo mês. Segundo o chefe do grupo, engenheiro Rento Chagas, a visita está prevista para a primeira ou a segunda semana de agosto, mas ainda depende de confirmação. Conforme Zimmer, a viagem foi proposta pela empresa e tem como objetivo mostrar ao órgão ambiental a tecnologia empregada na Bahia, cujo sistema de proteção ao meio ambiente será o mesmo utilizado no Rio Grande do Sul.
Resultado de uma associação entre a Aracruz Celulose e a sueco-finlandesa Stora Enso, a Veracel produz celulose branqueada de eucalipto em Eunápolis (BA). Com capacidade anual de 900 mil toneladas de celulose, a planta, que entrou em operação em 2005, é uma das maiores do mundo e afirma incorporar equipamentos, sistemas de controle de processos e de proteção ambiental de última geração.
(Por Débora Cruz, Ambiente JÁ, 25/07/2007)