Os bastidores da obra do Carrefour em Santa Maria envolvem uma polêmica, no mínimo, curiosa: o destino das 12 palmeiras e coqueiros que estavam no pátio do antigo Hugo Taylor, futura sede do hipermercado, e a morte de dois deles.
Na última terça-feira, os donos do terreno do Hugo Taylor, na Avenida Rio Branco, foram até ao bairro Nonoai à procura das plantas, que lhes pertencem. No local, onde está sendo construído um parque municipal, eles encontraram as plantas. Eloy Saccol, um dos donos, ficou furioso ao ver as árvores no local. Ele conta que, em nenhum momento, foi avisado do destino das plantas.
- Só agora ficamos sabendo do lugar onde elas tinham sido plantadas. Ninguém nos ligou para dizer nada sobre isso - disse, indignado.
Em junho, a Gare foi cogitada para receber as árvores. A idéia não prosperou. A liberação do plantio demoraria mais do que o prazo para o início das obras do Carrefour. O diretor da Secretaria Municipal de Proteção Ambiental, Luiz Claudio da Silva, explica que a liberação dependeria de um estudo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (Iphae):
- A Gare é patrimônio histórico e precisaríamos aguardar um laudo técnico para colocar as árvores lá.
A prefeitura diz ainda que escolheu o futuro Parque da Nonoai como lar para as palmeiras e os coqueiros porque o projeto prevê uma área arborizada. A administração municipal justifica que não avisou a família Saccol sobre o transporte das plantas porque tratou do assunto com a direção da multinacional.
Em 21 de fevereiro, prefeitura e Carrefour assinaram um termo de autorização para o transplante das árvores. No documento, a Secretaria de Proteção Ambiental se comprometeu em acompanhar o replantio e fiscalizar a adaptação das árvores por um ano. Em ofício, de 3 abril, os donos do terreno pedem à prefeitura que sejam "convidados a participar do próximo encontro sobre o tema", ou seja, a retirada e o replantio de coqueiros e palmeiras.
A direção do Carrefour alega que recebeu uma procuração dos donos do antigo Hugo Taylor autorizando o grupo a representá-los perante a prefeitura em tudo relativo à aprovação do projeto do hipermercado.
MorteAlém de estar furioso com o destino das árvores, Saccol encontrou duas delas - um coqueiro e uma palmeira - serradas ao lado do terreno do Parque da Nonoai. Ao retirá-las, transportá-las e replantá-las, elas foram danificadas.
A Natura, contratada para o serviço, confirma a informação. Valmor Christmann, dono da floricultura, explica que pequenos acidentes são normais em transporte de árvores de grande porte.
- Estamos empenhados em recuperar o dano. As árvores deverão ser repostas por duas da mesma espécie - garantiu Christmann.
Ele reconhece a dificuldade em comprar árvores similares e não descarta a possibilidade de comprar outras espécies para substituir. De acordo com a prefeitura, a Natura tem 30 dias para repor a palmeira e o coqueiro danificados sob pena de ser enquadrada na Lei de Crimes Ambientais. Saccol afirma que ficou com o prejuízo de não ter conseguido vender suas árvores. Segundo ele, duas empresas, uma de Cachoeira do Sul e outra de Florianópolis (SC), teriam manifestado interesse em comprar as plantas:
- Essas árvores valem quase tanto quanto o prédio.
Ele afirma que a empresa de Santa Catarina avaliou em R$ 5 mil o metro de árvore. O lucro com as 12 seria de cerca de R$ 600 mil. Saccol afirma que vai pedir na Justiça o direito de ter as árvores de volta.
Os tiposDas 12 árvores, 8 são do tipo palmeira-tamareira, 2 palmeira-leque e 2 coqueiro-jerivá
- Palmeira-tamareira - Natural das Ilhas Canárias. Por isso, é conhecida como tamareira-das-canárias. É uma árvore resistente, capaz de suportar as geadas do inverno
- Palmeira-leque - Há várias espécies, mas a maioria é originária da Oceania. É uma planta que se adapta facilmente a regiões litorâneas
- Coqueiro-jerivá - Nativo do Brasil, sua área de cultivo se entende desde o Sul da Bahia até o Rio Grande do Sul. Também existe no Paraguai, na Argentina e no Urugua
É crime?- O artigo 34 do decreto federal 3.179, de 21 de setembro de1999, prevê multa de R$ 500 por árvore para quem "destruir, danificar, lesar ou maltratar plantas de ornamentação de logradouros públicos ou em propriedade privada alheia"
Outra obraNão é a primeira vez que palmeiras são transplantadas na cidade por causa de uma obra. Em 2003, quando o Calçadão foi reformado, duas árvores que estavam no local foram levadas para o Parque do Itaimbé. Uma delas morreu logo após o replantio
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Diário de Santa Maria, 26/07/2007)