Clientes de supermercados do Paraná estão aprendendo a carregar um novo componente em suas compras: a sacola oxibiodegradável. Pequena, frágil e promissora, ela têm sido tema de debates polêmicos envolvendo promotores de Justiça, empresários e a Secretaria Estadual do Meio Ambiente. A discussão se estende desde março deste ano, quando o governo local propôs que as redes adotassem o novo produto, capaz de se dissolver sozinho em 18 meses. Duas redes, a Condor (maior do estado) e Muffato seguiram a sugestão.
De um lado, a secretaria e o Ministério Público defendem que a sacola é boa porque se decompõe rápido, através de um aditivo químico anexado ao plástico, o que contribui para causar menos estragos ao meio ambiente. De outro, empresários da indústria plástica não reconhecem a eficácia do material. Explicam que ela vira pó no lugar de se decompor, apesar das garantias das autoridades estaduais de sua eifcácia na proteção à natureza.
No entanto, nessa discussão, que teve até encontro entre todas as partes interessadas esta semana, na Assembléia Legislativa, ninguém nega que a sacola comum leva de um a cinco séculos para se dissolver na natureza e, por isso, é um instrumento que bloqueia, por exemplo, a decomposição de produtos orgânicos acondicionados em lixões, além de infestar rios e entupir bueiros, gerando outros problemas como enchentes. Uma estimativa da Promotoria de Defesa do Meio Ambiente é de que são usadas cerca de 80 milhões de sacolas plásticas por mês no Paraná, o equivalente a uma montanha de 20 toneladas. Só da rede Condor saem de suas 25 lojas aproximadamente 10 milhões no mesmo período.
O secretário estadual do Meio Ambiente, Rasca Rodrigues, afirma que alguma coisa precisa ser feita para barrar o efeito que o plástico comum continua a causar na natureza. “É o começo de um movimento para mudar toda a cadeia do plástico. (A adoção das sacolas biodegradáveis) É uma alternativa de se continuar usando esse material. O ideal mesmo era banir ele do mercado”, diz Rasca. A indústria do plástico, através de técnicos e químicos, expôs que há outros materiais biodegradáveis que poderiam ser adotados, mas custam caro e não tem a simpatia financeira dos compradores deste tipo de produto, no caso lojistas de vários ramos comerciais. Presidente da Plastivida, entidade formada por representantes da indústria plástica, Francisco de Assis Esmeraldo encara a sacolinha mágica como uma enganação, que poderia ser prejudicial tanto quanto os poluentes soltos por gasolina e diesel na atmosfera. O custo, segundo ele, é que o pó da sacolinha se infiltra no solo e torna-se um risco de contaminação do lençol freático.
Restrições do empresariado à parte, a sacolinha oxibiodegradável é vista com simpatia pela classe política . A Câmara de Vereadores de Curitiba aprovou uma lei que torna obrigatório o uso na cidade. O projeto aguarda sanção do prefeito Beto Richa. Na Assembléia, tramitam em comissões técnicas três projetos para obrigar todo o varejo a usar a sacola no estado. No mês de maio, a secretaria e a Promotoria de Proteção ao Meio Ambiente fez reunião com as nove maiores redes supermercadistas e deu prazo de 30 dias para que o empresariado apresentasse uma alternativa. Do contrário, poderiam sofrer processos. O promotor responsável pelo caso, Saint Clair Honorato dos Santo, foi procurado por O Eco, mas a assessoria de imprensa informou que ele estava de férias.
Em comunicados oficiais, a Apras (Associação Paranaense dos Supermercados) se posicionou a favor do emprego das sacolas garantindo inclusive que estimula seus associados a usar o novo material. Segundo a entidade, a utilização das sacolas pode diminuir a zero o impacto ambiental causado pelo acúmulo de resíduos sólidos. “Enquanto uma sacola plástica convencional pode levar 100 anos para se decompor na natureza, a oxibiodegradável leva apenas 18 meses, graças ao aditivo acrescentado ao produto que o torna mais sensível à luz solar, temperatura e umidade do ar, acelerando o processo de decomposição natural”, finaliza o comunicado.
(Por Dimitri do Valle,
OEco, 26/07/2007)