Antes reticente em participar do leilão das usinas do Complexo do Rio Madeira, a Energias do Brasil já considera a possibilidade de participar da construção e operação de pelo menos uma das hidrelétricas a serem erguidas no local. A nova postura da companhia deve-se à mudança imposta pelo governo federal, que vetou a participação de estatais nos leilões. O diretor vice-presidente de Finanças e Relação com Investidores, Antônio José Sellare, revelou ontem que a empresa foi procurada por alguns dos consórcios que estão sendo formados para os leilões.
"A mudança feita pelo governo realmente traz interesse adicional. Se antes íamos olhar as licitações por questão de obrigação, agora estamos vendo-as com muito interesse. Estamos sendo procurados, e vamos avaliar, sem obrigação de participar ou não", afirmou.
setor movimenta-se. O leilão das usinas do Rio Madeira, o maior investimento no setor hoje em curso no mundo, movimenta o setor, com as empresas se articulando para a formação de consórcios para a construção das hidrelétricas de Santo Antônio (3.168 megawatts) e Jirau (3.326 MW), cujo custo inicial estimado é de R$ 24 bilhões.
Cinco consórcios demonstraram interesse. A previsão do governo é de que o leilão da usina de Santo Antônio ocorra em meados de outubro.
A participação em uma das usinas do Rio Madeira estaria em consonância com o objetivo da Energias do Brasil de ampliar seu portfolio de geração. Em busca disso, a companhia analisa, no momento, a possibilidade de construir 19 Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo e Goiás. A capacidade instalada somada dessas unidades seria de 440 MW.
Sellare destacou que a Energias do Brasil pretende entregar à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) até fevereiro, estudos de viabilidade referentes a dez dessas PCHs, cuja potência somada é de cerca de 250 MW. Após a entrega, a Aneel tem 90 dias para autorizar ou não a construção, que levaria cerca de dois anos.
"Nesse meio tempo, podem surgir outros projetos competindo com esses. Mas nossa expectativa é que possamos iniciar algumas obras já no ano que vem, e incluir as PCHs nos leilões de energia", observou Sellare.
O executivo ressaltou que, para elevar a potência instalada da companhia, vem sendo levado em consideração um amplo conjunto de alternativas, que incluem usinas térmicas movidas a biomassa e a carvão, e usinas eólicas.
A Energias do Brasil fechou acordo com a MPX Mineração e Energia para o desenvolvimento das usinas térmicas Maranhão (350 MW), a ser construída em São Luís, e Pecém (700 MW), que será instalada na cidade de São Gonçalo do Amarante, no Ceará. A parceria prevê que cada um dos grupos deterá 50% de cada projeto. O carvão a ser utilizado será importado.
O acordo prevê que a MPX pagará à Energias do Brasil R$ 2,5 milhões à vista pelos direitos do projeto da UTE Maranhão, além de outros R$ 7,5 milhões, na venda da energia do empreendimento. Já a Energias do Brasil pagará à MPX R$ 5 milhões à vista pelos direitos do projeto da UTE Pecém, mais R$ 15 milhões na venda da energia dessa usina.
Segundo Sellare, apesar de os custos dos equipamentos necessários a essas usinas estarem em curva ascendente, o preço-teto de R$ 140 por megawatt/hora (MWh) estipulado pelo Governo nos leilões viabiliza o investimento nas térmicas movidas a carvão. Caso haja uma queda desse preço, teria que haver condições melhores, frisou. A idéia da empresa, de acordo com o executivo, é que esses projetos possam ser incluídos no leilão A-5 que será realizado ainda nesse semestre.
"Não podemos mais um ou dois anos para fazer um investimento. Fomos ao mercado para tocar o projeto mais cedo, e estamos otimistas com esses projetos de carvão", destacou.
Antônio José Sellare disse ainda que a Energias do Brasil vem encontrando alguns empecilhos para investir em geração via biomassa e eólica. No caso da energia gerada por ventos, não há fornecedores de equipamentos suficiente no Brasil, reclama. "Continuamos esperando oportunidades para entrarmos no mercado eólico no Brasil. Nosso controlador tem experiência e investiu muito, nesse segmento, no exterior", lembra.
Em relação à biomassa, Sellare afirmou que a empresa vem mantendo contato para firmar parcerias com produtores de álcool, mas que o acordo é dificultado pelo interesse diferenciado que cada lado tem.
"É difícil fazer acordo. Temos que produzir para entregar energia, e eles não. Se o preço do álcool cair, eles vão produzir menos, e vão me entregar menos bagaço de cana para que eu gere energia", completou.
(Cirilo Junior, do
Jornal do Commercio, 26/07/2007)