Um estudo realizado pela União Européia sugere que um aumento no consumo de biocombustíveis nos 27 países do bloco não faria subir o preço final dos alimentos e não distorceria o mercado internacional. Em março a UE determinou que 10% dos combustíveis consumidos pelos automóveis do bloco até 2020 deverá ser de origem biológica. Para suprir esse novo mercado estima-se que a indústria européia precisará de 59 milhões de toneladas de cereais - 18% da produção interna - e ainda terá que importar 20% do biocombustível necessário.
A conclusão vai no sentido contrário do que defendem a FAO (Organização da ONU para Agricultura e Alimentação) e a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) em relatórios publicados nos últimos dois meses. Segundo especialistas das duas organizações, a maior demanda por grãos e óleos vegetais, que servem de matérias-primas para os biocombustíveis, já está causando um aumento nos preços internacionais desses produtos.
Como os grãos são muito utilizados na alimentação animal, esse aumento se refletiria nos custos de criação de animais e seria indiretamente transferido para os preços de produtos de origem animal.
Divergência
“Estamos de acordo em que o preço dos grãos subirá. Mas eu afirmo que isso não se refletirá no preço final dos alimentos”, explicou à BBC Brasil Wolfgang Munch, autor do estudo europeu. Ele defende que FAO e OCDE não levam em conta fatores que equilibrariam a ascensão no preço dos grãos e, paralelamente, impediriam que fosse transferida para os custos de criação animal.
“A produção de biocombustíveis a partir de sementes oleaginosas dá origem a um subproduto rico em proteínas, que também é usado na alimentação de animais. Então, se por um lado a ração a base de grãos ficará mais cara, por outro lado a ração a base de oleaginosas ficará mais barata, porque a maior produção de biocombustíveis aumentará a oferta desse subproduto.”
Segundo o especialista, a pasta de canola – subproduto da fabricação de biodiesel a partir de sementes de canola – custa atualmente 60% menos em relação há dois anos. “O mesmo acontecerá com a soja no futuro. O preço da semente aumentará, mas óleo e pasta obedecerão o caminho contrário. Haverá tanta quantidade desses subprodutos que talvez os fazendeiros até recebam incentivos para usá-los”, estima.
Melhor produtividade
Munch também ressalta que o desenvolvimento de biocombustíveis de segunda geração aumentará em até 40% o aproveitamento das terras cultivadas. “Essa nova geração usará não apenas as sementes, mas a palha, o grão, toda a planta para gerar energia. Com isso economizaremos área e reduziremos significativamente a concorrência entre alimentos e energia”, explica. Essa tecnologia deverá alcançar dimensão industrial e ser competitiva por volta de 2015.
Na UE, prevê o especialista, outro fator que contribuirá para manter estável o preço dos alimentos é o movimento demográfico previsto. “Como a população européia diminuirá até 2020, também diminuirá a demanda por alimentos, ao mesmo tempo em que sabemos que a extensão de terra cultivável está aumentando entre 1% e 2% ao ano. Ou seja: a produtividade está crescendo mais que o consumo”, afirma o autor.
(Por Márcia Bizzotto, BBC, 26/07/2007)