A mudança no padrão de chuvas observada em todo o mundo ao longo do último século é conseqüência do aquecimento global, afirma estudo divulgado ontem (26/07) pela revista "Nature". O trabalho projeta para o futuro a tendência de áreas secas ficarem mais secas e áreas chuvosas, mais chuvosas.
A ocorrência de tempestades mais intensas e inundações no norte do Hemisfério Norte --como as que vêm castigando a Inglaterra nos últimos dias--, e de secas severas em áreas ao norte do Equador (como México e região do Saara) é fruto, acreditam os cientistas, do aquecimento promovido pelo agravamento do efeito estufa. Depois de os climatologistas terem mostrado que a humanidade é responsável pelo aumento na temperatura e no nível do mar, agora eles sugerem que há, sim, uma parcela de culpa humana na mudança dos padrões de chuva.
Estudos anteriores não tinham conseguido mostrar essa relação porque consideravam a quantidade global de chuvas. Assim, mesmo que em um lugar diminuísse e em outro aumentasse, no geral a precipitação se mantinha a mesma, o que mascarava o resultado. Agora foi levada em conta a média por faixa de latitude. Cientistas americanos, britânicos e japoneses compararam as mudanças observadas na precipitação média do século 20 com as simuladas por programas de computador e as dividiram em três grupos.
O primeiro levou em conta somente as emissões humanas de gases-estufa, o segundo considerava apenas o impacto de fenômenos naturais --como erupções vulcânicas-- e o terceiro continha os dois. Foi esta última análise que apresentou os melhores resultados. Na faixa que inclui o norte da América do Norte e da Europa, o nível de precipitação aumentou 62 mm entre 1925 e 1999. Os pesquisadores estimam que entre 50% e 85% deste aumento possa ser atribuído a atividades humanas. Nas alterações medidas na faixa de 0 a 30 ao sul da linha do Equador, também existe uma parcela grande de culpa humana.
De mal a pior
"[Essas mudanças] já podem ter causado efeitos significativos nos ecossistemas, na agricultura e na saúde humana em regiões sensíveis a mudanças de precipitação", escreve a equipe liderada por Xuebin Zhang, da Divisão de Pesquisa Climática do Canadá. Além disso, os cientistas perceberam que na comparação entre as mudanças já observadas e outras simuladas nos modelos climáticos computadorizados, as primeiras foram mais intensas. Isso sugere que as projeções que vêm sendo feitas para os impactos da crise do clima podem estar subestimadas.
No começo do ano, o IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas) qualificou como "inequívoca" a responsabilidade humana pelo aquecimento global, principalmente por causa da queima de combustíveis fósseis. Os cientistas estimaram que até o final do século as temperaturas podem subir até 4C.
(Folha de São Paulo, com "Independent" e Reuters, 26/07/2007)