A Arcelor Mittal Tubarão (antiga Companhia Siderúrgica de Tubarão - CST) mal iniciou o funcionamento de seu alto forno e já anuncia a ampliação da sua produção de bobinas de aço. Desta vez, a empresa divulga que as obras para a ampliação começam ainda este ano e deverá aumentar a produção de bobinas de aço de 2,7 milhões para 4 milhões de toneladas.
Segundo a Associação Capixaba de Proteção ao Meio Ambiente (Acapema), o aumento da produção será bastante significativo para o meio ambiente. "Não ouvi nada sobre isso, mas tudo é possível acontecer nesta conjuntura", ressaltou Freddy Guimarães, da Acapema.
Sem cumprir condicionantes anteriores, a siderúrgica irá ampliar dos atuais 5 milhões para 7,5 milhões de toneladas de aço por ano com a expansão. Consequentemente, os capixabas assistirão ao aumento de poluentes derivados do enxofre que são lançados sobre os moradores e o meio ambiente na Grande Vitória sem o devido tratamento, como acontece há décadas.
As atividades da antiga CST começaram no dia 30 de novembro de 1983, quando entrava em operação o alto-forno 1. A primeira previsão de tempo de uso da unidade do alto-forno foi de oito anos, mas em 1998 a empresa fez um projeto de prolongamento da vida útil do equipamento e chegou a bater "um recorde de 23 anos sem passar por reformas".
Ocorre que a empresa tinha uma condição para funcionar, que era a construção de uma unidade de dessulfuração. Não só não construiu a unidade, por favores dos governos do Estado, como construiu um novo alto-forno. Tampouco este alto-forno conta com processo de dessulfuração. As emissões de enxofre sem tratamento degradam o meio ambiente, mas principalmente afetam a saúde humana.
No governo Fernando Henrique Cardoso a empresa foi especialmente saneada e, após, privatizada. O governo investiu US$ 10,751 bilhões na CST, Usiminas, CSN, Acesita, suas quatro principais empresas siderúrgicas. E, ao vender estas empresas o governo arrecadou apenas U$ 4,28 bilhões. Somadas as transferências de dívidas, o custo total das quatro empresas para o setor privado foi de U$ 5,89 bilhões.
O não cumprimento da condicionante ambiental de construção da unidade de dessulfuração, deixaram que os poluentes gasosos da CST afetassem a saúde dos moradores da Grande Vitória. Mas isso não impediu que a siderúrgica continuasse com suas ampliações.
Entre os poluentes, micropartículas de ferro, as PM2.5, que vão contaminar os pulmões, além de derivados do enxofre que, em contato com a água, produzem ácido sulfúrico. O ácido pode lesar a pele e também ser inalado. Ao todo, são 59 os tipos de poluentes, sendo 28 altamente nocivos à saúde. Os gases são os mais letais.
As doenças provocadas pela poluição do ar vão de desde alguns tipos de câncer, a doenças genéticas, doenças que afetam o sistema imunológico, alergias e doenças respiratórias, entre outras.
Ao todo, as grandes poluidoras do Estado despejam no ar 59 tipos de poluentes, sendo 28 altamente nocivos à saúde. Estas empresas despejam no ar cerca de 264 toneladas/dia de poluentes (96.360 toneladas/ano).
CVRD, CST-Arcelor e Belgo-Arcelor provocam 50% da poluição do ar na Grande Vitória, segundo dados apurados pelo Instituto de Física Aplicada da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). A CVRD responde por 20-25% dos poluentes do ar; a CST por 15 a 20%; e a Belgo por 5-8% das 264 toneladas/dia de poluentes, 96.360 toneladas/ano de poluentes.
(Por Flávia Bernardes, Século Diário, 25/07/2007)
http://www.seculodiario.com.br/arquivo/2007/julho/24/index.asp