Atrasado na corrida do etanol, o Rio Grande do Sul recuperou terreno na produção de biodiesel. Além da soja, cultivo tradicional no Estado, outras plantações começam a enfeitar os campos gaúchos, como girassol, canola e a mamona. Com esses grãos, a produção se diversifica e reduz a competição com os alimentos.
Antigo mantra dos técnicos, a diversificação encanta Alencar Paulo Rugeri, agrônomo da Emater. As oportunidades abertas pelo biodiesel enriquecem o cenário e o solo e reforçam um coro que já estava rouco de condenar a monocultura.
- Precisamos ter bastante cautela e nos manter calcados na pesquisa, não na aventura, senão corremos o risco de queimar a chance por desenvolver algo de que não temos conhecimento.
É neste afã que trabalham produtores e técnicos: pesquisar, validar as conclusões, disseminar o conhecimento adquirido. Uma das apostas é o girassol, que tem passado incólume por sucessivos testes.
- A época de plantio a torna um cultivo complementar ao milho e à soja. Vislumbramos resultados interessantes - diz Rugeri.
A planta de flor amarela pode ser semeada em agosto e colhida em janeiro. É o capítulo, como se chama o miolo que contém as sementes, que interessa para a produção de óleo. Com pequenas adaptações, tanto nas máquinas para soja quanto nas de milho, é possível mecanizar a colheita. Guarani das Missões é pioneiro no plantio do girassol. A variedade permite, segundo Rugeri, mais equilíbrio nutricional do solo, redução de doenças e maior estabilidade da produção.
- É um cultivo que vai se espalhar para outras regiões. Os resultados obtidos nos dão segurança de que o girassol tem potencial bastante interessante no Estado - garante o técnico.
Ainda polêmica, a mamona pode se consolidar no Pampa desde que acompanhada de uma mudança de mentalidade, explica Rugeri. Resistente à estiagem, a vegetação da baga espinhenta pode prosperar em regiões consideradas difíceis para a soja.
- Não é a salvação, é mais uma alternativa. O produtor vê nascer em qualquer lugar e acha que é só jogar as sementes. Mas é preciso cultivar. A mamona não tolera solos ácidos e encharcados e tem de vir no limpo - diz, explicando que a planta não aceita concorrência das ervas daninhas.
O fato de que mais de 90% do biodiesel produzido no Estado ter a soja como matéria-prima não quer dizer concentração, avalia Rugeri:
- É o que há no mercado no momento, não temos outro cultivo em quantidade suficiente.
Só as três usinas de biodiesel já operando em solo gaúcho devem absorver 10% da safra de soja. Considerando que pelo menos outras quatro estão projetadas, a proporção poderia subir para 20%, mas como não interessa uma arrancada no preço, há incentivo para diversificar as fontes. É o caso da maior investidora nacional, Brasil Ecodiesel, que estimula a plantação da mamona e do girassol.
- Não queremos nos atrelar a commodities alimentares nem competir com terras que possam ser usadas para esses cultivos - diz Nelson Côrtes da Silveira, presidente da empresa.
A geração de emprego e renda com a produção de biodiesel fez o governo criar o Selo Combustível Social. O Ministério do Desenvolvimento Agrário já certificou 16 empreendimentos no país, com capacidade de 866 milhões de litros anuais, que poderão pagar menos tributos federais. A única no Estado é a Oleoplan, de Veranópolis.
Saiba maisBatismoO primeiro registro da palavra "biodiesel" é datado de 1988, quando começa a ser fabricado na Áustria e na França. Em 1980, havia sido feito o primeiro depósito de patente do produto no Brasil, por Expedito Parente.
DiversidadeGirassol, mamona e canola são as plantas com maior potencial de aproveitamento para os agricultores gaúchos.
A diversificação das plantações é um benefício indireto da introdução de novas culturas par a a produção de biocombustível no Rio Grande do Sul
Em 2005, foi sancionada a medida provisória que torna obrigatória a mistura de 2% de biodiesel a partir de 2008 e de 5% a partir de 2013
Para garantir auto-suficiência, o Estado tem de plantar 300 mil hectares de cana, cerca de 8% da área ocupada hoje por soja
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ZH, 25/07/2007)