A Bolívia não se opõe à decisão do Brasil de construir duas grandes hidrelétricas no rio Madeira (RO), e acha que suas preocupações ambientais poderiam ser resolvidas com um tratado energético binacional, disse na terça-feira o chanceler boliviano David Choquehuanca.
Em relatório ao Senado, Choquehuanca disse que o governo de Evo Morales considera possível equilibrar políticas ecológicas e o uso de grandes recursos hídricos, embora tenha insistido que o Brasil ainda não completou os estudos de impacto e benefícios das futuras represas de Jirau e Santo Antônio.
A Bolívia, segundo o ministro, "tem de tomar uma decisão defendendo a vida e o desenvolvimento do norte amazônico". Um relatório brasileiro indica que as duas represas inundariam cerca de 500 quilômetros quadrados de selva, parte deles bem perto da fronteira com a Bolívia.
"Ao pensar em tratado de integração energética não estamos descartando (as represas), não estamos nos opondo, sabemos que o Brasil soberanamente pode construí-las, como nós na Bolívia. Só manifestamos que há risco, impactos não só no Brasil, mas também na Bolívia e no Peru", afirmou.
Choquehuanca admitiu que as usinas no Madeira, com capacidade conjunta de 6.450 megawatts, seriam essenciais para o plano brasileiro de ampliar sua capacidade geradora de 83.000 megawatts, em 2002, para 104.000 megawatts até 2012.
"Conhecemos a crescente necessidade de energia no Brasil. Isso obriga a projetos urgentes", afirmou, lembrando que a capacidade geradora da Bolívia é de apenas 700 megawatts.
Ele afirmou que há três décadas, quando foram dados os primeiros passos do projeto das represas Jirau e Santo Antônio, a Bolívia e o Brasil identificaram também a possibilidade de levantar barragens binacionais em Cachuela Esperanza e Abunã, no trecho do Madeira que serve de fronteira.
Um tratado boliviano-brasileiro poderia permitir o desenvolvimento hidrelétrico de todo o Madeira de forma compatível com o meio ambiente, e ao mesmo tempo seria capaz de gerar energia para ser exportada para terceiros mercados, acrescentou o ministro.
O Madeira, principal rio de Rondônia e um dos maiores afluentes da margem direita do Amazonas, recolhe quase todas as águas da metade norte da Bolívia.
NÃO A UMA ITAIPUChoquehuanca confirmou que equipes técnicas dos dois países se reunirão na próxima semana no Brasil para analisar os estudos realizados até agora para Jirau e Santo Antônio.
"Queremos estar seguros das consequências. Precisamos conhecer, por exemplo, as consequências de Itaipu, porque o Paraguai tem muitos problemas de energia, tendo a maior hidrelétrica do mundo não pôde resolver esse problema de energia", disse.
"Que não tenhamos o mesmo, dito com todo respeito, que os paraguaios, que não se beneficiaram de Itaipu", acrescentou na audiência o senador Tito Hoz de Vila, da oposição direitista.
A hidrelétrica de Itaipu, na fronteira do Paraná com o Paraguai, tem capacidade de 12.600 megawatts, quase toda voltada para o mercado brasileiro.
"Levamos todos esses elementos em conta para o caso de um acordo energético com o Brasil. Tenta-se levar energia para os grandes centros industriais, está bem, precisam de energia, mas não tem de ser para que os ricos fiquem mais ricos, também é preciso pensar nos povoadores", disse Choquehuanca.
"Não estamos nos opondo às represas, o que queremos é estar informados das consequências, não só o impacto ecológico, mas também a geração de recursos econômicos, do desenvolvimento, e não somente baratear (a eletricidade), mas também a possibilidade de exportá-la para outros lugares."
(Por Carlos Alberto Quiroga,
Reuters, 24/07/2007)