Desafio da cana é multiplicar por 10
Candidato a principal fornecedor mundial de combustíveis renováveis, o Brasil terá de decuplicar a produção de etanol para substituir 10% do consumo planetário de combustíveis fósseis. A projeção consta de estudo do Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético (Nipe) da Universidade de Campinas que circula pela Esplanada dos Ministérios.
Carlos Eduardo Vaz Rossell, pesquisador do Nipe, explica que há dois cenários: o mais conservador prevê a substituição de 5% dos combustíveis fósseis por etanol e projeta a produção de 100 bilhões de litros por ano (veja quadro). E garante:
- O Brasil tem grande potencial no suprimento de biocombustíveis, porque foi pioneiro na aplicação, tem a maior parte do território entre os trópicos e menor custo de produção.
Para atingir a meta, reforça o pesquisador, é preciso que o governo coordene a área pública e ajude a organizar o setor privado, disposição mostrada ao anunciar a proibição da cana-de-açúcar na Amazônia e no Pantanal. Essa limitação, explica, foi considerada no estudo.
- Se tudo for bem gerenciado, é factível crescer sem afetar a produção de alimentos nem degradar áreas - diz.
Como fronteiras preferenciais, detalha Rossell, o estudo aponta áreas ocupadas por pecuária extensiva. Centro-Oeste, Maranhão e Bahia receberiam novos canaviais. É nessa direção que se move um gigante nacional que estréia no setor. Clayton Hygino de Miranda, responsável pelo projeto de açúcar e álcool da Odebrecht, mira o oeste paulista, o sul de Goiás e o Mato Grosso do Sul com um canhão de R$ 5 bilhões. No mínimo.
- A decisão é assumir a liderança. A maior está moendo 40 milhões de toneladas de cana ao ano. Mas, em cinco anos, terá mais de 40 milhões. Se necessário, vamos investir mais. Temos condições de fazê-lo - avisa.
Foi depois de seis anos que a Odebrecht decidiu acelerar o motor a álcool, por apostar na internacionalização do uso do combustível. O mesmo processo avança na propriedade das plantações e usinas. Sem causar preocupação, assegura Rossell:
- Esse interesse é a prova de que o etanol está ganhando importância. Desde que sejamos capazes de regular a produção, não vejo como ameaça, mas como um potencial efeito multiplicador.
Para abrir caminho, é preciso conquistar parceiros. Assim como Brasil descobriu o risco de ter um fornecedor único de gás natural, outros países não vão se submeter à dependência dos biocombustíveis verde-amarelos. O maior obstáculo para o Brasil, opina Plínio Nastari, diretor da Datagro, especializada em açúcar e álcool, está dentro das fronteiras: é o câmbio.
- O Brasil era líder disparado no menor custo de produção. Não é mais disparado - resume.
Segundo Nastari, o custo nacional já foi a metade dos competidores diretos, Tailândia e Austrália, que também produzem etanol de cana. A diferença caiu para entre 15% e 20%. Nesse caso, destaca o especialista, joga a favor do Brasil o fato de que a Austrália tem problemas de água, e a Tailândia enfrenta a limitação de áreas férteis.
Saiba maisNas projeções da Universidade de Campinas, para substituir 10% do consumo global de combustíveis o Brasil teria de plantar 40 milhões de hectares de canaviais
O cenário
O que é preciso para que o etanol brasileiro substitua 5% da gasolina usada no mundo até 2025:
Investimentos - R$ 10 bilhões/ano
Produção - 100 bilhões de litros/ano
... e o que vai proporcionar
Produção de energia - 55 terawatts hora (TWh)
Valor da exportação - US$ 30 bilhões
Aumento do PIB - R$ 150 bilhões
Aumento no emprego - 5,3 milhões
Fonte: Nipe/Unicamp
(
ZH, 25/07/2007)