Mesmo com o avanço obtido até agora, o setor sucroalcooleiro não perde de vista novos saltos tecnológicos que facilitem a missão de ampliar o tanque de biocombustíveis do país. O mais ambicionado é processo de produção de etanol celulósico. José Luiz Olivério, vice-presidente de desenvolvimento e tecnologia da Dedini Indústria de Base, uma das maiores fornecedoras de equipamentos para usinas, explica:
- Hoje podemos obter certa quantidade de álcool em determinada área de lavoura. O potencial da nova geração tecnológica é dobrar a produção com a mesma área plantada.
Há poucos dias, a Dedini anunciou parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp) para investir R$ 100 milhões no desenvolvimento de mais eficiência com as tecnologias atuais e no salto para a hidrólise, processo que permite a obtenção de etanol a partir de palha e bagaço de cana.
- Ainda não sabemos em quanto tempo poderá ser aplicado comercialmente, mas desejamos que seja curto prazo - diz Olivério.
Enquanto isso não ocorre, o diretor da Datagro, Plínio Nastari, avalia que são necessários maiores esforços para produzir energia elétrica a partir do bagaço de cana. Na sua avaliação, não desenvolver esse aproveitamento é o maior risco de perder a oportunidade diante da atenção do mundo e repetir a história da borracha - o Brasil dominava o setor, mas foi ultrapassado pela Indonésia.
- A energia elétrica poderia gerar mais renda e diminuir o preço do combustível - justifica.
Enquanto um quilowatt hora (kWh) a ser gerado em Angra 3 custa US$ 2,7 mil e nas novas usinas no Rio Madeira chega a US$ 1,6 mil, argumenta, a energia do bagaço e da palha da cana exige investimento de apenas US$ 800 por kWh. As usinas não brotam no mesmo ritmo dos canaviais, diz Nastari, porque há restrições burocráticas para interligação com as linhas de transmissão:
- Para construir linhas, é preciso ter direito de passagem, só autorizado pela Presidência da República.
Depois de sucessivos testes no laboratório de motores do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), o professor Francisco Nigro pondera que, sempre que se fala no ganho ambiental dos biocombustíveis, a principal vantagem está na fonte vegetal.
- São as plantações que reduzem os gases do aquecimento global.
Segundo Nigro, no caso do álcool o benefício é muito claro, mas no caso dos óleos isso depende do tipo de cultivo e da intensidade da mecanização aplicada.
- Se é uma cultura permanente, o ganho é maior. Se na colheita corta tudo, como o nabo forrageiro, não é tão favorável ao ambiente - resume.
Benefícios ambientaisConforme técnicos, a maior vantagem da produção de combustíveis verdes está nas plantações, que ajudam a retirar carbono do ar. Mesmo assim, são feitos testes para verificar a redução de emissões nos motores, que varia conforme o tipo.
Confira os resultados das médias...
... do álcool
Reduz
70% das emissões de monóxido de carbono em motores sem catalisador
85% de redução de dióxido de carbono (nos canaviais).
... do biodiesel*
Reduz
46% das emissões de dióxido de carbono (nas plantações)
100% das emissões de enxofre 36% de hidrocarbonetos não-queimados (materiais orgânicos) 50% de materiais particulados Aumenta... 15% de emissão de óxido de nitrogênio, que gera ozônio.
(*) para biodiesel puro (B100), comparado com diesel
Saiba mais
No futuro
O etanol celulósico ou de lignocelulose é a próxima etapa tecnológica. Feito a partir de produtos como espigas de milho, sobras de madeira, grama, além de palha e bagaço de cana, pode se transformar em alternativa de baixo custo. Além de dar destinação nobre a resíduos e rejeitos, não compete com matéria-prima de alimentos.
Geografia
Além do Brasil, o etanol já é utilizado na mistura com gasolina em vários países, como Argentina, Colômbia, Estados Unidos, Índia, Japão e México.
(
ZH, 25/07/2007)