Depois de recuperar a confiança dos consumidores brasileiros, graças à multiplicação da frota com motores flexíveis, o etanol verde-amarelo testa seu potencial planetário. Com credencial de campeão mundial de competitividade e capaz de reduzir as emissões de gases responsáveis pelo efeito estufa, é a estrela da safra nacional de biocombustíveis que provoca respeito e temor no mundo.
Para o próximo ano, a projeção do consumo nacional de álcool ultrapassa a casa de 20 bilhões de litros. Em janeiro, torna-se obrigatória a adição de 2% de biodiesel ao diesel de petróleo, fazendo circular 1 bilhão de litros ao ano. E a produção de H-Bio, o processo desenvolvido para melhorar o diesel tradicional, gerará um consumo de 425 milhões de litros ao ano.
Contando o ávido mercado externo, um mar de dezenas de bilhões de litros dos três tipos de biocombustíveis produzidos no país tornará mais verdes as ruas do planeta.
A nova onda irriga o mercado agrícola, alimenta novas indústrias e ajuda a transformar a matriz energética dos veículos. No ano passado, 13% dos motores eram abastecidos por fontes renováveis - exclusivamente álcool. Até 2020, a estimativa é de que esse percentual quase dobre, alcançando 24%. Para atingir a meta de substituir ao menos 5% do consumo mundial de gasolina por etanol brasileiro até 2025, estudos apontam a necessidade de investimentos anuais de R$ 10 bilhões.
Determinado a enfrentar as pressões internacionais, o Brasil se candidata a assumir na produção dos biocombustíveis um papel tão relevante como o do Oriente Médio na produção de petróleo. Apesar das faíscas de reação que surgem diante do avanço dos planos brasileiros, o apetite dos investidores demonstra que o caminho está aberto e pode ajudar na esperada aceleração do crescimento do país.
(ZH, 25/07/2007)
http://www.clicrbs.com.br/jornais/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&edition=8156&template=&start=1§ion=&source=a1570584.xml&channel=9&id=&titanterior=&content=&menu=23&themeid=§ionid=&suppid=&fromdate=&todate=&modovisual=
Usineiros testam alcance global da produção
Vencer as restrições a aspectos sociais e ambientais relacionados ao plantio das matérias-primas e desfazer a oposição entre biocombustível e produção de alimentos são obstáculos que o Brasil terá de ultrapassar como produtor de energia verde.
A expectativa dos especialistas é de que seja possível superar o desafio com a mesma determinação que transformou o país em campeão mundial de produtividade no etanol e mudou a conotação da palavra "usineiro" de negativa para positiva. Além da área verde ocupada com os canaviais, que ajuda a retirar carbono da atmosfera, o setor obteve sucesso em aplicar princípios ambientais de reciclagem, reutilização e redução (de consumo).
- Há uma pressão grande para a expansão da área de cana, mas com o cuidado necessário. Esse negócio é muito bom para o Brasil e é preciso fazê-lo com cautela para evitar excesso em termos ambientais - afirma Eduardo Assad, engenheiro agrônomo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
Se as fronteiras dos canaviais forem expandidas na direção certa, a substituição de áreas de pecuária de baixo rendimento pode elevar o preço da carne, mas não tanto que afete o consumo, pondera Assad. Nas suas contas, no cenário conservador, de suprir 5% da demanda mundial, seria necessário adicionar cultivos em 14 milhões de hectares, mais do que duplicando a área ocupada hoje. O especialista afirma que quatro variáveis devem ser pesadas na produção de combustíveis orgânicos: ambiental, social, tecnológica e econômica:
- É preciso muito cuidado para não perdermos boas idéias e uma das maiores oportunidades que o país já teve. O governo tem instrumentos para ser o grande mediador. Assusta um pouco chamar usineiro de herói, mas o setor aprendeu muito.
Entre as principais lições está o aperfeiçoamento dos processos industriais, com geração de energia a partir do bagaço de cana, e emprego do vinhoto na fertilização das lavouras. São dois resíduos promovidos a insumos. Com a fama de produto ambientalmente correto, o etanol poderia se expandir mais rapidamente, admite Assad. Mas não vê grandes obstáculos às pretensões nacionais:
- A cana é robusta. Não é à toa que é cultivada aqui desde 1520. Agora, abre uma chance fantástica para o país.
Saiba maisSabonetePor algum tempo, o biodiesel foi uma espécie de sobra na produção de glicerina, um dos componentes dos sabonetes. A corrida dos biocifrões provoca uma superprodução do material, cujo preço vem caindo em todo o mundo. Com a redução do custo, tende a crescer o emprego em produtos alimentícios e de higiene dental.
Girassol
No próximo ano, quando passa a ser obrigatória a mistura de 2% de combustível vegetal ao diesel convencional, devem ser produzidos 100 milhões de litros de glicerina. Uma das mais valorizadas é a obtida na produção de biodiesel a partir de girassol.
(
ZH, 25/07/2007)