A Campanha "Pelos Povos Ancestrais e Pela Soberania Alimentar", de 2007, organizada para celebrar o 26 de julho, Dia Internacional de Defesa do Ecossistema de Mangue, luta pela defesa dos direitos do povo que há anos vive nesses territórios.
A Campanha foi iniciada em 1998 quando as comunidades de usuários ancestrais dos mangues do Equador decidiram unir seus esforços em uma grande campanha que mobilizou equatorianos, organizações sociais de Honduras, Guatemala, Colômbia, Estados Unidos (todos eles na época integrantes da Rede contra a indústria do camarão, ISA-Net) e pessoas de todo o mundo que participavam da tripulação do barco "Guerreiro do Arco-íris" (Rainbow Warrior) do Greenpeace. Uma grande ação foi realizada para re-estabelecer a dinâmica do mangue em uma camaroneira ilegal.
Em 1999, o Governo do Equador baixou um Decreto Executivo que proíbe qualquer tentativa de destruir os mangues equatorianos e abre a possibilidade às concessões comunitárias do mangue. Apesar disso, constantemente as leis são violadas por poderosos industriais camaroneiros. A defesa popular por seu território é uma das maiores conquistas para proteger os mangues e a vida comunitária. Acerca da Campanha e dos desafios em proteger esse ecossistema, Verónica Yépez concedeu entrevista a Adital.
ADITAL - Como é organizada a Campanha?
Verónica Yépez - Desde 1998, as comunidades usuárias ancestrais do ecossistema de mangue e de outros ecossistemas marino-costeiros, as organizações ambientalistas e sociais, e pessoas solidárias com esse ecossistema natural dedicaram o dia 26 de julho para celebrar e defender esse recurso natural. Mais ainda, em Setembro de 2004, durante a II Assembléia Geral da Redmanglar Internacional concordou em declarar a nível internacional o 26 de Julho como Dia da Defesa do Ecossistema de Mangue.
ADITAL - Quais são as principais demandas dos povos ancestrais do ecossistema de mangue?
Verónica Yépez - A campanha 2007, Pelos Povos Ancestrais e pela Soberania Alimentar!, pede o cumprimento dos direitos dos Povos Ancestrais do Ecossistema de Mangue: território, trabalho e soberania alimentar. O reconhecimento de nosso território no qual se constrói nossa cultura, nossa identidade e no qual se sustenta nossa soberania alimentaria.
ADITAL - Que atividades são mais prejudiciais aos mangues?
Verónica Yépez - O ecossistema de mangue está seriamente afetado ao redor do mundo por empreendimentos industriais, principalmente, pela cultura de camarão, que para a instalação das piscinas para a criação e cultivo do crustáceo corta todo o bosque de mangue na área das piscinas camaroneiras e contamina os pântanos, impede o fluxo e refluxo das águas aos mangues vizinhos afetando a todo o ecossistema em seu conjunto. Também as atividades de turismo industrial são responsáveis pelo desaparecimento de muitos mangues em nossa região, em países como México, Panamá, República Dominicana, entre outros. Enquanto a cultura do camarão é a causa da devastação de 70% dos mangues do Equador e de uma porcentagem similar de mangues em Honduras, os países mais fortes exportadores de camarão.
ADITAL - Qual é o impacto do cultivo de camarão em piscinas para o ecossistema de mangue?
Verónica Yépez - A construção de piscinas de camarão, em sua maioria, foi feita em solos pertencentes ao ecossistema de mangue. Ou seja, cortou-se e devastou-se todo o bosque para criar piscinas artificiais nas quais pudessem cultivar os camarões. O desflorestamento do bosque de mangue é determinante para o estado de conservação de todo o ecossistema, com a falta de mangues, perde-se muitas espécies que nascem, desovam e crescem entre as raízes dos mangues. Adicionalmente, os povos costeiros que ancestralmente articularam o ecossistema de mangue e que dele obtêm seu sustento diário, viram decair suas economias familiares drasticamente pela falta de recursos para o autoconsumo e o comércio; são, principalmente, famílias de pescadores de peixe, conchas, caranguejos, ostra e de mangue que harmonicamente vivem junto com o ecossistema mangue desde tempos imemoriais.
ADITAL - Como é a situação de reconhecimento dos territórios dos povos de mangue latino-americanos pelos governos do Peru, Colômbia, Honduras e Equador?
Verónica Yépez - Esse processo começou no Equador e se espera poder contagiar a companheiros e companheiras de outros países que participam da REDMANGLAR Internacional. No Equador, apresentou-se a primeira Declaração dos Povos Ancestrais do Ecossistema de Mangue e recebeu o apoio desde a Secretaria dos Povos, Organizações Sociais e Cidadania.
Entretanto, o modelo econômico que promovido por esses países são contrários aos direitos dos povos e privilegiam as indústrias extrativas e a conseqüente destruição dos ecossistemas, por isso as demandas dos povos são lutas duras, mas que eles devem continuar a travar.
(Adital, 24/07/2007)