O tratamento de poluentes através da luz solar, em substituição das tradicionais estações de tratamento (ETAR), é um dos temas em destaque nas II Jornadas Ibéricas de Fotoquímica, que decorrem de quarta a sexta-feira, em Faro. O evento, a decorrer na Universidade do Algarve, contará com a participação de cerca de 130 especialistas, sobretudo portugueses e espanhóis, mas também de cientistas de outros países europeus e dos EUA.
Aquele processo de tratamento ambiental, com a designação de «catálise», já tem uma plataforma solar no concelho de Almeria, província espanhola da Andaluzia, e encontra-se ainda em fase de desenvolvimento, disse à Lusa um dos organizadores das jornadas, José Paulo da Silva, da Universidade do Algarve.
«O processo consiste em utilizar a luz, solar ou de lâmpadas, para transformar qualquer tipo de poluente em dióxido de carbono e água, moléculas que são inócuas para o ambiente», explicou. O sistema, que pode substituir na íntegra as ETAR (que utilizam processos químicos tradicionais), implica a mineralização de líquidos sujos e a sua aplicação aos vários tipos de poluentes «depende do tipo de luz utilizada», sublinhou.
A aplicação do sistema está a ser estudada em Portugal, mas na convenção não vão participar especialistas portugueses na matéria, embora esteja confirmada a presença de cientistas da central andaluza, a maior da Europa. «Os fotoquímicos poderão vir a dar um grande contributo para a resolução desses problemas se forem capazes de desenvolver células solares competitivas e métodos fotoquímicos de eficientes de produção de oxigénio, para ajudar a minimizar os problemas energéticos e atenuar problemas ambientais gerados pelos combustíveis fósseis», disse José Paulo da Silva.
Além da área ambiental, a fotoquímica, área da química que estuda as reacções produzidas pela luz, tem também aplicações em áreas como a medicina e a farmacologia. No que respeita à utilização da fotoquímica na área da medicina, estarão em discussão nas Jornadas temas como a utilização de moléculas fluorescentes que permitam novas imagens do interior do corpo humano, técnica actualmente em investigação.
Outro dos assuntos em debate entre os químicos que estarão na Universidade do Algarve será o uso do oxigénio singoleto para obter novos tipos de imagens de células ao microscópio. Segundo o mesmo especialista, a introdução de oxigénio singoleto numa célula e o posterior bombardeamento com determinado tipo de luz permite que a célula «responda» emitindo um novo tipo de luz, o que possibilita que a célula adquira uma nova dimensão.
As II Jornadas Ibéricas de Fotoquímica são organizadas pela Sociedade Portuguesa de Química e pelo Grupo de Fotoquímica da Real Sociedade Espanhola de Química. Este tipo de eventos conjuntos entre cientistas portugueses e espanhóis na área da fotoquímica começou em 2003, em Santiago de Compostela, e ocorrem de quatro em quatro anos.
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Barlavento, 24/07/2007)