Na pecuária do Amapá, o rebanho de búfalos já é três vezes maior do que o bovino. Porém, a quantidade não é proporcional à qualidade do manejo dos animais e da pastagem. Essa distorção provoca problemas ambientais como degradação das pastagens, diminuição de animais silvestres e surgimento de plantas invasoras, principalmente o algodão bravo. De acordo com o pesquisador da Embrapa Amapá, Paulo Meirelles, toda atividade humana causa impacto ao meio ambiente. “No caso da pecuária, o impacto é minimizado ou ampliado dependendo da gestão da propriedade onde são criados os animais”, ressalta Meirelles.
O rebanho de búfalos no Amapá é estimado em torno de 180 mil pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), enquanto o de gado bovino está em cerca de 60 mil cabeças. Os bubalinos estão distribuídos em áreas inundáveis do Estado, nos municípios de Amapá, Pracuúba, Cutias do Araguary, entre outras localidades da costa do Amapá.
A realidade mostra que a maioria dos criadores de búfalos não faz o manejo adequado das pastagens, mantendo um número de animais maior do que a pastagem suporta. É por isso que acontece a degradação da pastagem, ou seja, a cada ano o pasto vai perdendo a produtividade e esta condição por sua vez causa os impactos ambientais. “É necessário que os produtores ajustem os animais à quantidade de pastos, é uma mudança de foco procurar a qualidade em vez de quantidade. As áreas de pastos estão sendo manejadas com número de animais superior ao que a pastagem suporta”, observou Paulo Meirelles.
Algodão bravo - Um dos problemas que resultam do modo equivocado na criação de búfalos no Amapá é o aparecimento da planta chamada algodão bravo. Esse problema já se acumula há cerca de 25 anos. Hoje é a principal planta invasora dos pastos do Amapá. Estudiosos do assunto apontam que existem cerca de 100 mil hectares de pastagem nativa do estado atingidos pelo algodão bravo, um arbusto que se dissemina rapidamente, e por ser uma planta tóxica mata o animal.
O uso de herbicida no algodão bravo, entretanto, não é recomendado, porque no Ministério da Agricultura não existe registrado nenhum princípio ativo para matar esta planta. Uma forma de combate recomendado pela Embrapa é a roçagem controlada, um processo lento, mas que é necessário para tentar controlar o avanço intenso do algodão bravo nos pastos do estado. “No Amapá, o problema atingiu uma proporção tão grande que está difícil o controle. Tem que haver uma mudança de consciência e não achar que a natureza é quem tem de cuidar dos búfalos. A solução é ajustar o número de animais à área de pastagem. Quando põe animais demais, o pasto enfraquece e morre e o algodão bravo toma conta”, diz Paulo Meirelles.
Histórico - Os fatores que incentivaram a criação de búfalos no Amapá são a rusticidade e adaptação a ambientes inundáveis, resistência a doenças, e manejo simplificado. O programa de incentivo a bubalinocultura nasceu em 1975, ou seja, há 32 anos. A quase totalidade do rebanho bovino tem por finalidade a produção de carne (95%), sendo o restante destinado a uma inexpressiva produção de leite, cuja média é de apenas três litros por vaca por dia.
Quanto aos bubalinos, o Amapá conta com aproximadamente 180 mil cabeças (13,5% do rebanho nacional) e detém o segundo maior rebanho da Amazônia. A pecuária de corte ainda está fortemente marcada pelo uso extensivo da terra e por um baixo padrão zootécnico, o que se reflete na baixa rentabilidade por hectares. No Estado existem 16.709 km2 de pastagens nativas de terras inundáveis e algumas centenas de milhares de hectares de pastagens nativas nos cerrados, pastagens que representam a principal fonte de alimentação dos rebanhos. A integração dos sistemas de pastejo dos campos inundáveis com os de cerrado, tem grande potencial para incrementar a produção pecuária do Amapá, sem a necessidade de desmatar áreas de floresta densa.
(Por Dulcivânia Freitas, da
Embrapa, 24/07/2007)