O uso de fertilizantes não aumenta de modo significativo a concentração de elementos radioativos (radionuclídeos) em hortaliças, como mostra um estudo da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP. De acordo com a pesquisa, o solo não retém os radionuclídeos dos fertilizantes, que podem estar escoando para cursos d’água ou lençóis freáticos subterrâneos.
A bióloga Nancy Kuniko Umisedo analisou amostras de fertilizantes, solo e vegetais em cultivos das cidades de Embu-Guaçu, Suzano e Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo. “O objetivo era traçar o caminho dos elementos que emitem radiação desde o fertilizante aplicado no plantio até a planta que é colhida para consumo”, explica. “As hortaliças analisadas foram alface, repolho, couve-flor e brócolis, as mais vendidas na Ceagesp, e beterraba”.
A bióloga mediu a atividade específica do potássio-40 e dos radionuclídeos das séries do urânio-238 e do tório-232, chamados de radionuclídeos naturais por serem encontrados normalmente no solo e na matéria-prima dos fertilizantes. “Na pesquisa, a atividade média em fertilizantes foi de 1.200 becquerels por quilo (Bq/kg)”, relata, “um índice baixo para os padrões encontrados na literatura, pois no fertilizante usado no cultivo da cana-de-açúcar o nível é de 8.900 Bq/kg”.
Ao mesmo tempo, foram comparadas amostras de solo adubado e não adubado. “Nas amostras de solo com fertilizante, a atividade específica variou entre 36 e 342 Bq/kg, índice semelhante ao do solo sem adubação, onde a atividade oscilou entre 36 e 350 Bq/kg”, afirma Nancy. “Os dados mostram que não há relação entre a concentração de radionuclídeos naturais nos fertilizantes e a encontrada nos solos”.
VegetaisEm todas as amostras de vegetais analisadas, a concentração de elementos que emitem radiação não excedeu os valores normalmente encontrados em cada espécie. “As concentrações do potássio-40 variaram de 44 Bq/kg no repolho até 80 Bq/kg na beterraba”, conta a pesquisadora. “Com estes números, é possível afirmar que não houve transferência relevante de radionuclídeos para os vegetais com a adubação, nas amostras utilizadas”.
De acordo com a bióloga, os resultados do estudo podem ajudar a orientar os agricultores no momento do plantio. “No caso do potássio-40, ele está sempre associado ao potássio, elemento necessário para o crescimento das plantas e empregado em fertilizantes”, explica. “Se a concentração não aumenta, é possível que a adubação não esteja fazendo efeito, e por isso ela deveria ser aplicada apenas quando há necessidade efetiva de nutrientes”.
Nancy ressalta que novas pesquisas serão feitas para determinar o destino dos elementos radioativos que não são retidos pelo solo ou pelos vegetais. “Há a possibilidade do potássio estar escorrendo pela superfície do solo, atingindo cursos d’água”, alerta. “Outra hipótese é que esse elemento esteja infiltrando os lençóis freáticos subterrâneos”.
Segundo a pesquisadora, há uma grande preocupação com o efeito dos fertilizantes na concentração de elementos radioativos no solo. “Fertilizantes usados em outros tipos de cultivo também deveriam ser analisados, pois alguns adubos possuem uma concentração elevada de radionuclídeos”. As análises de todas as amostras foram feitas no Departamento de Física Nuclear do Instituto de Física (IF) da USP.
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Da Agência USP, 23/07/2007)