A saúde de Serra do Navio, no Amapá, beira o caos.  A Unidade Mista, mantida com parcos 16 mil reais repassados mensalmente pelo governo do Estado, funciona mais pela dedicação da diretora, a fisioterapeuta Almerinda Cruz, e demais funcionários, do que pela manutenção que o Poder Público tem o dever de dar.

Na cidade estão construindo fossas a céu aberto, porque o sistema de tratamento de esgoto, implantado pela Icomi, deixou de receber manutenção, como também não houve a preocupação de ampliá-lo para processar os dejetos produzidos pela crescente leva populacional.

A fossa receptadora dos dejetos, construída pela Icomi na entrada da localidade Pedra Preta, se encontra em estado de abandono, absolutamente sem mais condições de ser utilizada.

Por conta disso, a população começa a construir fossas nos quintais e até mesmo nas ruas, rompendo inclusive a encanação do sistema de distribuição de água.  Aliás que esse sistema está sendo destruído até mesmo para construção de habitações que não têm nada a ver com as linhas arquitetônicas originais de Serra do Navio.

O problema de saúde pública é tão grave na região serrana que a Unidade Mista oficialmente não existe, ou seja, não se encontra no organograma do governo do Estado, a exemplo do que ocorre com Vitória do Jari e Pracuuba.

A diretora Almerinda Cruz confessa que já está cansada de pedir ajuda e de tentar fazer parcerias com empresas mineradoras e as prestadoras de serviço que atuam no setor de mineração de Serra do Navio.

“Sempre os diretores dessas empresas dizem que não têm obrigação de ajudar, que não têm compromisso de apoiar o hospital porque eles já pagam impostos e royalties pelo trabalho que fazem em Serra do Navio”, denunciou a diretora da Unidade Mista que, no entanto, destacou a ARG como a única empresa que ajuda o hospital, fazendo algumas doações, uma delas, colchões para enfermarias.

A Unidade Mista pode fazer apenas 16 consultas diárias, apesar de ter as dimensões de um hospital de Primeiro Mundo ou dos grandes centros brasileiros.  Mas nele não funciona raio x; não são feitas cirurgias, o que nos tempos da Icomi era realizado diariamente; a constante queda de energia impede o funcionamento normal do hospital que está cercado de mato alto, sujeitando os pacientes a ataques de insetos e mesmo cobras ou outro bicho perigoso.  Diante de quadro tão desolador, a diretora Almerinda ainda tem forças para sorrir e vibrar com a limpeza interna diária da Unidade Mista e o fato da farmácia do local está bem servida de remédios.  

(Por Douglas Lima, Diário do Amapá, 23/07/2007)