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2007-07-24
Verde será o mundo ecologicamente correto e verde é o dólar. Quem tiver juízo tentará lucrar com esse mundo verdejante, produzindo os bens desejados pelos defensores do meio ambiente. A mais nova iniciativa para esverdear o planeta, a partir dos países mais desenvolvidos, é do presidente da França, Nicolas Sarkozy, e do primeiro-ministro do Reino Unido, Gordon Brown. Eles pretendem propor a redução do imposto sobre valor adicionado (IVA) incidente nos produtos mais adequados à preservação do ambiente, como carros menos poluidores.

O comissário de Comércio da União Européia, Peter Mandelson, defende uma política semelhante para o comércio exterior, propondo impostos de importação mais baixos para bens produzidos com preocupação ambiental. As duas propostas têm potencial para afetar o comércio internacional e os brasileiros deveriam acompanhar o debate com atenção.

A preocupação ecológica pode tanto criar oportunidades para o comércio quanto favorecer o protecionismo. Até agora os brasileiros estão mais familiarizados com o lado perigoso das campanhas ambientalistas. Grupos de interesses podem recorrer a alegações tão variadas quanto a defesa das tartarugas marinhas, a preservação da floresta amazônica e o combate à poluição atmosférica para justificar barreiras comerciais. A alegações desse tipo somam-se facilmente outros argumentos politicamente corretos, como a preservação da saúde pública e a promoção de melhores condições de trabalho nas economias emergentes.

A diplomacia comercial brasileira tem rejeitado, em princípio, a inclusão de cláusulas sociais e ambientais nos acordos de comércio. Essa tem sido, de modo geral, a atitude mantida na Rodada Doha de negociações comerciais. A pretensão européia de incluir no acordo agrícola certas “preocupações não comerciais” foi desde o início recebida criticamente. Essa posição não é gratuita. Desde o começo da rodada, ficou evidente o perigo de substituição de velhos padrões por novos critérios protecionistas.

Mas o futuro das negociações globais é incerto e, além disso, as preocupações politicamente corretas - ambientais, sociais e sanitárias - tendem a ganhar importância nos mercados mais desenvolvidos. O governo brasileiro reconhece o fato e procura tirar vantagem dessa tendência, ao tentar difundir noutros mercados o uso do etanol de cana. Esse esforço inclui a melhora da imagem do País como produtor de álcool. A maior parte dos críticos do programa sabe pouco sobre a cana e ainda menos sobre a Amazônia, mas o barulho político produz efeito.

A decisão do governo de regular as condições sociais e ambientais da produção de cana reflete a preocupação com esse problema. É uma atitude realista, em termos comerciais. Nesse caso, a preocupação com o comércio impõe ao governo e aos produtores brasileiros maior atenção a requisitos sociais e ambientais valorizados em qualquer democracia razoavelmente moderna. O País ganha de qualquer forma.
Outros setores da iniciativa privada reconheceram mais cedo que o governo a importância das pressões politicamente corretas. A Companhia Vale do Rio Doce deverá interromper o fornecimento de minério de ferro a produtores de ferro-gusa do Pará e do Maranhão, se usarem carvão vegetal produzido com devastação florestal e em condições degradantes de trabalho.

Processadores de soja vêm discutindo há mais tempo formas de preservação ambiental, motivados por pressões internacionais. Também no setor algodoeiro houve reação a denúncias de trabalho escravo.

Seria muito melhor se iniciativas como essas fossem tomadas sem as pressões do mercado externo. De toda forma, essas pressões, motivadas ou não por interesses protecionistas, vêm produzindo efeitos salutares. Mas não basta o cuidado defensivo. Os brasileiros podem oferecer ao mundo produtos bons e em condições competitivas, como a carne, a soja, o açúcar e o etanol. O governo e os produtores deveriam gastar mais esforço para mostrar aos europeus as vantagens do bife originário de um boi criado num pasto saudável. Mas não podem dispensar, por enquanto, o esforço pela conquista da credibilidade. Se tiverem sucesso, converterão a preocupação com o verde numa generosa fonte de lucros.

(O Estado de São Paulo, 24/07/2007)




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