Os mediadores das negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC) acreditam que o etanol não pode ser considerado um 'bem ambiental' e, portanto, não deve ser incluído numa lista de produtos que poderão circular sem impostos de importação. Um dos pontos centrais da 'diplomacia do etanol' do governo brasileiro é a de conseguir que o tema entre na agenda da OMC. Os comentários dos mediadores irritaram o Itamaraty. 'Não há sentido em continuar falando sobre bens ambientais se não incluirmos os biocombustíveis', afirmou o embaixador do Brasil na OMC, Clodoaldo Hugueney.
A lista vem sendo negociada há meses. Mas por recusa dos países ricos o etanol até agora não foi incluído. Estados Unidos, Japão e Europa elaboraram uma lista de produtos industrializados que se beneficiariam de isenção total de tarifas. A lista tem bicicletas, veleiros e até CD-ROM, produto que na avaliação dos japoneses evitaria o uso de papel e, assim, reduziria o desmatamento.
Para os países ricos, que têm altas tarifas sobre o etanol e outros biocombustíveis, não há como discutir nesse momento o fim das barreiras. O próprio secretário de Agricultura dos Estados Unidos, Mike Johansson, já afirmou que uma mudança na política americana somente seria discutida em 2009.
O Itamaraty não ficou satisfeito com o fato de que as propostas da OMC na semana passada para fechar um acordo que destrave a Rodada Doha ignoraram a questão dos bens ambientais.
Para os mediadores das negociações, a lista não deve incluir o etanol. O problema é que, nas negociações agrícolas, países podem identificar produtos que querem manter sob proteção de tarifas. O etanol, assim como o açúcar, entrariam na lista de bens protegidos para a maioria dos governos de países desenvolvidos.
O governo brasileiro reagiu de forma contundente aos comentários. 'A avaliação do Brasil é de que bens ambientais devem incluir tanto os produtos agrícolas como os bens industrializados', afirmou Hugueney. 'Se o etanol não pode ser classificado como um bem ambiental, o que é que pode ser classificado assim?'.
(Por Jamil Chade,
Estado de São Paulo, 24/07/2007)