O dominicano e escritor Frei Betto, amigo pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ex-assessor especial da presidência, criticou a indústria dos biocombustíveis em um artigo publicado na Agência de Notícias da América Latina e Caribe e divulgado pelo Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), órgão ligado à Presidência da República. No texto, Frei Betto chama o biocombustível de "necrocombustível", por ser "predador de vidas humanas" ao ocupar áreas cultiváveis e elevar os preços dos alimentos.
"Vamos alimentar carros e desnutrir pessoas. Há 800 milhões de veículos automotores no mundo. O mesmo número de pessoas sobrevive em desnutrição crônica. O que inquieta é que nenhum dos governos entusiasmados com os agrocombustíveis questiona o modelo de transporte individual, como se os lucros da indústria automobilística fossem intocáveis", diz Betto, que lembra que o problema já foi "denunciado por Fidel Castro".
O religioso ressalta que os canaviais tendem a superexplorar os trabalhadores, que costumam ser migrantes, bóias-frias e não têm direitos trabalhistas regulamentados, além de estarem sujeitos a problemas de saúde devido ao esforço intenso. O ex-assessor de Lula faz um apelo:
"O governo brasileiro precisa livrar-se da sua síndrome de Colosso (a famosa tela de Goya). Antes de transformar o país num imenso canavial e sonhar com a energia atômica, deveria priorizar fontes de energia alternativa abundantes no Brasil, como hidráulica, solar e eólica. E cuidar de alimentar os sofridos famintos, antes de enriquecer os 'heróicos' usineiros".
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O Globo, 23/07/2007)