O Movimento dos Pequenos Agricultores não concorda com a proposta do governo federal para a produção do biodiesel. Segundo Sérgio Conti, que faz parte da coordenação do MPA, muito vem sendo discutido sobre a questão dentro do movimento e a intenção é propor a integração o plantio para biodiesel com o plantio de alimentos.
"Temos a compreensão do prejuízo ambiental de uma monocultura, assim como os prejuízos sociais. O programa federal Brasil Ecodisel que será aplicado no Estado, por exemplo, não incentiva em nenhum momento a produção de alimentos e sim atividades que não darão sustentabilidade para as famílias", disse Sérgio Conti.
Ao todo, só nesta segunda-feira (23) foram anunciados cerca de R$760 milhões para investimentos em uma fábrica de biodiesel em Colatina com capacidade para produzir 100 mil toneladas/ano de biodiesel e 12.790 toneladas de glicerina, em Colatina. Uma destilaria também será construída em Montanha e ocupará 60 mil hectares. Uma terceira usina, a Montasa, do grupo Infinity Bio-Energy, também será construída na reigão com capacidade para 1,2 milhão de toneladas de cana em 2008.
Para o crescimento deste mercado, Sérgio avalia que as mesmas técnicas utilizadas pela Aracruz Celulose, como o fomento florestal, deverão ser usadas para seduzir os produtores a aderirem às novas produções ligadas a produção do biodiesel, do álcool e do etanol. Ele chama atenção para o perigo de os produtores serem novamente tratados como meros produtores de matéria- prima, o que consequentemente afastaria estas famílias da produção de alimentos.
Diante da necessidade de experimentar soluções sustentáveis, para ele a produção de óleos vegetais para a produção de biodiesel, álcool e etanol deve se desenvolver integrada à produção de alimento para evitar a utilização de monocultura e o êxodo rural.
"Da cana nós podemos fazer o álcool, o etanol, podemos usar o bagaço para ração animal, o vinhoto para adubo, podemos fazer açúcar e melado. Com isso a produção não fica presa ao biodiesel e o produtor deixa de ser apenas um instrumento para produção de matéria-prima", ressaltou.
Além da cana, a batata doce também pode ser usada para a produção do álcool e do etanol, assim como para o consumo humano e animal. O amendoim e o girassol também podem ser usados de diversas formas.
A partir daí, ressalta Sérgio Conti, as famílias passam a não produzir somente matéria prima, ou o próprio óleo vegetal, mas também produzirão alimentos, mantendo assim sua tradição e independência no campo.
Para ele, esta é a única forma de produzir o biodiesel, poupando não só o meio ambiente, mas também as comunidades rurais familiares do Estado.
"Acredito que vão transformar algumas fazendas projetadas para o plantio de eucalipto em plantações para a produção do biodiesel mas não há dúvidas que vão partir para a agricultura camponesa como é feito no fomento da Aracruz Celulose. A Fetaes tem acordo com o programa Federal "Brasil Ecodiesel" e com certeza vão tentar incentivar o produtor a entrar em um sistema de exploração, como foi feito com o eucalipto. Isso seria terrível!", disse ele.
Segundo o MPA, o fomento florestal da Aracruz Celulose distanciou o camponês da produção de alimentos. Sérgio alerta que o mesmo ocorre para a produção do biodiesel. "Se isso ocorrer, ficaremos obrigados a entregar uma quantidade por mês e a nos sujeitarmos a preços baixos. É aquilo ou nada, porque não tem concorrência. Isso leva à exploração do produtor familiar", denunciou Sérgio Conti.
A proposta do MPA ainda não tem data para ser divulgada oficialmente. Sérgio ressalta a importância de se ter clareza antes de aderir às novas produções. Segundo ele, o fomento é um grande sistema de exploração.
(Por Flávia Bernardes,
Século Diário, 24/07/2007)