A utilização da energia nuclear como fonte de eletricidade tem sido discutida no Senado como alternativa para solucionar uma possível crise energética brasileira. Os senadores Marco Maciel (DEM-PE), Augusto Botelho (PT-RR) e Valdir Raupp (PMDB-RO) já se manifestaram favoráveis e essa forma de energia e as Comissões de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (CCT) e de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) vão debater o tema em audiências públicas, em datas a serem ainda definidas.
O senador Augusto Botelho, representando a CCT, visitou, no final de junho, o Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP), que realiza pesquisas sobre energia nuclear e enriquecimento de urânio. Botelho defende a realização de investimentos no programa nuclear brasileiro e, para isso, ressalta a necessidade de haver maior volume de recursos no Orçamento da União destinados a essa finalidade. Ele lembrou que o Brasil possui uma das maiores reservas de urânio do mundo e afirmou que os procedimentos da Marinha em relação à energia nuclear são seguros.
Mais investimento na geração de energia nuclear também foi defendido pelo senador Marco Maciel. Ele destacou, em discurso no Plenário, que o déficit energético brasileiro se constitui num dos principais obstáculos ao crescimento econômico do país e que, em sua opinião, a energia nuclear pode resolver a questão.
Maciel ressaltou ainda que a energia nuclear é uma das fontes mais limpas de energia, uma vez que não lança gases na atmosfera, e que o manejo desse tipo de energia tem se tornado mais seguro nas últimas décadas, apesar de ainda haver preconceitos.
Já para o senador Valdir Raupp, a dificuldade para concessão de licenças ambientais, o que impede a construção de usinas hidrelétricas, pode ser superada com a adoção da alternativa energética nuclear. Na sua opinião, usinas nucleares são ambientalmente mais limpas do que as usinas termelétricas a diesel e a carvão, mas exigem maiores investimentos.
Fonte energética
A energia nuclear consiste no uso controlado de reações nucleares para obtenção de energia mecânica, térmica e elétrica. A forma de fissão nuclear do urânio é a principal aplicação civil da energia nuclear, com a vantagem de não utilizar combustíveis fósseis, que lançam gases tóxicos na atmosfera e contribuem com o aumento do efeito estufa. Esse tipo de energia é a terceira fonte energética mais utilizada no mundo, segundo informações das Indústrias Nucleares do Brasil (INB) - empresa de economia mista, vinculada à Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e subordinada ao Ministério da Ciência e Tecnologia.
No Brasil, a energia nuclear é a segunda fonte de energia gerada (3%), de acordo com a Agencia Internacional de Energia Atômica (IAEA, sigla em inglês), sendo a energia hidrelétrica a principal fonte energética gerada no país (93,5%). Em terceiro lugar vem o petróleo (1,3%), seguido pelo carvão (1,2%) e pelo gás (1%).
Ainda conforme a INB, o Brasil possui a capacidade de geração de 1855 megawatts de energia nuclear em suas duas unidades em operação - Angra 1 e Angra 2. O Conselho Nacional de Política Energética aprovou, em junho, a construção da usina nuclear Angra 3, que deve custar cerca de US$ 3,7 bilhões e tem previsão de ser concluída em 2013. A decisão precisa ainda deve ser ratificada pelo presidente da República.
Apesar de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já ter se manifestado favorável à utilização da energia nuclear como forma de incrementar o crescimento econômico do país, o programa nuclear brasileiro encontra oposição por parte de entidades ambientalistas e do próprio Ministério do Meio Ambiente. A preocupação é com a longa duração dos resíduos radioativos, que atualmente estão sob controle da CNEN - autarquia federal vinculada ao Ministério de Ciência e Tecnologia responsável pela atividade nuclear no Brasil.
(Por Iara Borges, Agência Senado, 23/07/2007)