O economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Simon Johnson, culpou na quinta-feira (19/07) o protecionismo agrícola norte-americano pelos grandes aumentos nos preços de alimentos nos Estados Unidos, hoje influenciados pela crescente demanda por milho para a produção de etanol nos EUA. Falando a repórteres, Johnson disse que a demanda pelo etanol e o maior consumo de alimentos nos mercados emergentes elevaram significativamente os preços no mundo todo.
Ele afirmou que a demanda pelo biocombustível, que tem reduzido os estoques de grãos, causou ramificações econômicas nos Estados Unidos, o que poderia ter sido evitado se o país removesse barreiras tarifárias para importações do etanol brasileiro, mais barato e feito da cana-de-açúcar. "A questão do etanol foi um choque completamente desnecessário em consequência do protecionismo, causado por um ineficiente subsídio agrícola", disse Johnson.
"Se você quer subsidiar seus fazendeiros, está bem para mim, é uma decisão política, mas há maneiras muito melhores para se fazer isso. Este é um (caso) que criou alguns problemas inflacionários que contaminaram questões macroeconômicas". Nos primeiros quatro meses deste ano, os preços que os consumidores pagaram por comida e bebidas subiram em uma taxa anual, ajustada por temporadas, de 6,7 por cento, comparadas com uma alta de apenas 2,1 por cento em todo o ano passado, mostraram dados do Departamento de Trabalho dos EUA.
O aumento nos preços dos alimentos foi um "choque significativo de inflação no curto prazo". "Há um choque inflacionário nos EUA. A expectativas inflacionárias de curto-prazo presumivelmente se mexeram, enquanto as expectativas de médio-prazo não, então as pessoas acham que o Fed (banco central dos EUA) será capaz de controlar isso". "Há, no entanto, um efeito contagioso em outros países porque o preços do milho estão em alta global e parte disso está vindo dos EUA, e outra parte da demanda dos mercados emergentes", relatou o economista-chefe.
Falando sobre questões mais amplas, Johnson disse estar perturbado pelas crescentes conversas protecionistas nos EUA, Europa e outros países, especialmente em uma época de crescimento da economia global. "O que vai acontecer quando houver uma reviravolta?", disse ele. "Políticos responsáveis devem se afastar desta questão e ser muito cuidadosos. Protecionismo é uma ladeira muito escorregadia e eu compreendo que é atrativa politicamente, mas é também muito perigosa". Ele disse que o caso do etanol era um "exemplo interessante" de como o protecionismo pode afetar toda a economia.
(Por Lesley Wrougthon, Reuters, 19/07/2007)