(29214)
(13458)
(12648)
(10503)
(9080)
(5981)
(5047)
(4348)
(4172)
(3326)
(3249)
(2790)
(2388)
(2365)
cvrd
2007-07-20
Recente "nota de esclarecimento" publicada pela Companhia Vale do Rio Doce sobre o compromisso assumido para reduzir a dispersão de pó de minério na Grande Vitória ficou ressoando nos ouvidos capixabas. Como um sino nas montanhas do Sudeste. Ouve-se ainda o blemblém enquanto os papéis seguem trocando de mãos nas bolsas de valores das capitais do mundo. Nunca a empresa brasileira valeu tanto no pregão do mercado de ações. Até quando?

Longe de mim bater no monstro de ferro que cospe fogo no eixo Minas-ES, mas a nota empresarial acima mencionada é tão primorosa que só fala do vilão ambiental quase no final da mensagem propriamente dita. Refiro-me ao item 10 dos 13 que compõem a nota: De passagem, lá está escrito: "Essa revitalização terá como finalidade conter poeira arrastada pelo vento". O vento, eis o vilão.

Os engenheiros fazem a poeira levantar com os mecanismos que inventam, adaptam e põem a funcionar, enquanto a tarefa de remediar o estrago ambiental fica por conta dos advogados, agrônomos, biólogos, jornalistas e demais agentes da administração. Cada um na sua, todos se esforçam para encobrir o sol com as peneiras disponíveis. Esse é o padrão histórico: primeiro a economia, depois a ecologia.

A revitalização citada é a ampliação da vegetação nativa nos arredores do complexo siderúrgico da Ponta de Tubarão, tarefa que cabe também ao poder público, já que nenhuma empresa sai na chuva sozinha. Sair na chuva, eis a questão.

Pode-se até dizer que isso não passa de conversa para boi dormir, mas no caso do pó de minério, convenhamos: tudo seria mais fácil se o vento não insistisse em soprar sobre os montes de ferro granulado. Feliz ou infelizmente, o vento sopra, às vezes látego, outras bálsamo. Daí ser lógico pensar que a Vale deveria fazer um acordo com o grande vilão ambiental da Grande Vitória. Ventos, só os fracos e moderados.

Sem vento, o pó de minério cairia sobre si mesmo, tendo efeito nulo sobre a população das redondezas; só oneraria os trabalhadores envolvidos nas vis operações fabris, processuais e mercantis. Todos certamente morreriam sufocados pelo pó, como acontecia nas minas de outrora. A leucopenia já caiu no esquecimento, mas há 40 anos ainda era a principal causa da morte dos mineiros de Criciúma, SC. Eles viviam em média até os 42 anos. Até hoje a ecologia luta para reverter os estragos ambientais da mineração de carvão no sul catarinense. Enquanto isso, no pampa gaúcho, a estatal CGTEE está investindo pesado na ampliação de suas plantas de energia termelétrica. A tecnologia vem da China, o país vice-campeão do mundo em poluição ambiental, logo depois dos Estados Unidos. O Uruguai pode entrar com recurso internacional contra o arraste pelo vento norte do pó de carvão queimado. A milonga não tem fim.

Outra possibilidade para o caso da Grande Vitória seria levar a cabo a idéia do poluidor-pagador. Ou, seja, quem polui paga uma indenização às suas vítimas. Essa idéia andou em voga (sob a sigla PP) na época da ECO-92, a megaconferência que reuniu no Rio 190 países há exatos 15 anos. Depois daquele barulho todo, entrou na moda a "compensação ambiental", sem que as locomotivas deixassem de rebocar vagões, como é praxe ns melhores ferrovias nacionais. Isto é, primeiro o concerto empresarial, depois o conserto ambiental.

Em seguida à ECO-92, avançando de costas para o abismo, o mundo chegou ao Protocolo de Kyoto, estando agora às voltas com o desmanche das geleiras, (supostamente) provocado pelo aquecimento global. Quem viu o documentário estrelado por Al Gore não tem dúvidas de que o colapso é provocado pela queima de combustíveis fósseis. Mas há quem diga que se trata de uma simples comoção natural do planeta, organismo-gigante tão vivo quanto nós. Ou seja: com ou sem queima de carvão, petróleo e florestas nativas, a Terra chacoalha.

Na época da ECO-92, o governo do ES estava nas mãos de um engenheiro da Vale chamado Albuíno Azeredo. Lembra-se? Sim, não faz tanto tempo assim. Foi o pedetista Albuíno quem abriu caminho para o governo petista de Vitor Buaiz, que deu espaço para o governo de José Ignácio Ferreira, auto-imolado na pira do imperador Paulo Hartung dos Santos, cujo mandato expira em 2010. Entre um e outro governador, os comboios da Vale continuaram aumentando ao longo da via expressa de Itabira a Vitória, alimentando usinas que lotam navios num incessante vaivém.

Antes que nos percamos na neblina desta polêmica, eis o que vale a pena lembrar: a encrenca ambiental capixaba é anterior aos governos acima mencionados, e cada um deles fez sua parte para "estimular o desenvolvimento" (por um lado) e "controlar a poeira arrastada pelo vento" (pelo outro), respondendo assim às demandas ambientais da opinião pública.

Por falar em OP (velha sigla também em desuso, já que a opinião pública muda ao sabor do vento), houve um tempo em que os vitorienses da gema, os capixabas em geral e os mineiros ancorados no Atlântico chegavam perto para conferir o tamanho das pedras de minério que chegavam de trem à baía de Vitória. Naquele tempo todos se orgulhavam do progresso. Até os comunistas. Ainda não havia prosperado a praga do ambientalismo.

Foi na era de Getúlio Vargas, que não apenas criou a Vale, mas pariu boa parte da representação política que se traduz nos partidos e sindicatos contemporâneos, a começar pelo PSD e o PTB, vivos ainda com seus nomes de origem ou versões modernosas (PSDB, PSB, PT, PDT) do duelo de classes.

A mecanização do pós-guerra jogou as pilhas de minério para longe dos olhos da população, que se multiplicou ao sabor das marés por encostas, praias e restingas. Agora se arrasta essa polêmica contraditória: um em cada dez habitantes da Grande Vitória depende das atividades da Vale para dizer "presente" na luta pela sobrevivência; nove em cada dez populantes gostariam de se ver livres da poluição gerada pelas empresas da Ponta de Tubarão, que bem ou mal continuam a ser instituições públicas sob gestão particular, como é costume nas economias mais dinâmicas do planeta. Onde vai parar esse trem não é possível prever, mas devagar com a louça é um cuidado que ninguém se cansa de pedir.

(Por Geraldo Hasse, Século Diário, 18/07/2007)

desmatamento da amazônia (2116) emissões de gases-estufa (1872) emissões de co2 (1815) impactos mudança climática (1528) chuvas e inundações (1498) biocombustíveis (1416) direitos indígenas (1373) amazônia (1365) terras indígenas (1245) código florestal (1033) transgênicos (911) petrobras (908) desmatamento (906) cop/unfccc (891) etanol (891) hidrelétrica de belo monte (884) sustentabilidade (863) plano climático (836) mst (801) indústria do cigarro (752) extinção de espécies (740) hidrelétricas do rio madeira (727) celulose e papel (725) seca e estiagem (724) vazamento de petróleo (684) raposa serra do sol (683) gestão dos recursos hídricos (678) aracruz/vcp/fibria (678) silvicultura (675) impactos de hidrelétricas (673) gestão de resíduos (673) contaminação com agrotóxicos (627) educação e sustentabilidade (594) abastecimento de água (593) geração de energia (567) cvrd (563) tratamento de esgoto (561) passivos da mineração (555) política ambiental brasil (552) assentamentos reforma agrária (552) trabalho escravo (549) mata atlântica (537) biodiesel (527) conservação da biodiversidade (525) dengue (513) reservas brasileiras de petróleo (512) regularização fundiária (511) rio dos sinos (487) PAC (487) política ambiental dos eua (475) influenza gripe (472) incêndios florestais (471) plano diretor de porto alegre (466) conflito fundiário (452) cana-de-açúcar (451) agricultura familiar (447) transposição do são francisco (445) mercado de carbono (441) amianto (440) projeto orla do guaíba (436) sustentabilidade e capitalismo (429) eucalipto no pampa (427) emissões veiculares (422) zoneamento silvicultura (419) crueldade com animais (415) protocolo de kyoto (412) saúde pública (410) fontes alternativas (406) terremotos (406) agrotóxicos (398) demarcação de terras (394) segurança alimentar (388) exploração de petróleo (388) pesca industrial (388) danos ambientais (381) adaptação à mudança climática (379) passivos dos biocombustíveis (378) sacolas e embalagens plásticas (368) passivos de hidrelétricas (359) eucalipto (359)
- AmbienteJá desde 2001 -