“Consoante decisão na OMC, se importações de pneus remoldados do Mercosul crescerem muito não há como segurar importações da Europa” - assim foi que Roberto Carvalho de Azevedo, do Ministério das Relações Exteriores e chefe da delegação brasileira, admitiu finalmente, em audiência pública na Comissão de Meio Ambiente da Câmara Federal, que o Brasil perdeu na OMC – Organização Mundial do Comércio - e que será impossível conter as importações.
De fato, confirmou ele no Congresso que é irrecorrível a decisão da Câmara Arbitral do Mercosul que obriga o Brasil a receber pneus remoldados fabricados no Uruguai, Paraguai e Argentina, sem qualquer limite de quantidade. Assim, caso o Presidente Lula ceda às pressões das multinacionais e proíba por medida provisória a importação de pneus usados para uso exclusivo como matéria-prima nas indústrias de pneus remoldados, na mesma hora fecharemos a BS Colway, para nos instalar no Paraguai e de lá exportar para o Brasil, a exemplo de outras fábricas que para lá já foram.
As condições oferecidas pelo Paraguai são muito atraentes e sem dúvida causarão uma debandada geral das fábricas brasileiras de pneus remoldados, que substituirão por trabalhadores paraguaios mais de 10 mil brasileiros empregados aqui. Com a isenção de tributos na importação de matérias-primas e sem o equivalente ao “custo Brasil”, crescerá acima de 30% a atual participação dos remoldados no mercado brasileiro, ampliando-se muito mais do que isso os recauchutados de caminhões e ônibus, já que custarão muito menos. E ainda teremos no Brasil os importados da Europa, conforme admite agora o ministro do Itamaraty.
Na mesma audiência pública, Vilien Soares, representante da Goodyear, Pirelli, Bridgestone / Firestone e Michelin, tergiversou diante de igual pergunta feita por vários deputados que o questionavam sobre as importações de pneus usados do Japão e da Europa que são reformados nos EUA e na França por aquelas multinacionais. Sim, por que no Brasil elas querem proibir a atividade, se também com pneus usados importados a praticam em seus próprios países?
O representante das multis ficou em “saia justa” quando reafirmou que elas não coletam mais que 20% dos pneus inservíveis de sua obrigação ambiental, porque não existiriam aqui. Isso porque, em seguida, disse que existem de sobra no Brasil pneus usados passíveis de reforma. Os deputados o questionaram então se as multis apenas coletam pneus usados inservíveis, enquanto deixam no meio ambiente os pneus usados reformáveis.
Indagado se a ação das multis não se prende a interesses econômicos, Vilien Soares respondeu que além da preocupação ambiental (sic), havia sim o interesse econômico legítimo, uma vez que os pneus usados de boa qualidade importados custam muito pouco quando comparados aos disponíveis no território brasileiro. Disse que essas importações da indústria de remoldados constituem concorrência desleal.
Ficou evidente que, para as multinacionais, não existe concorrência desleal quando as importações de pneus usados são feitas por elas, nos Estados Unidos e na França. O trágico é que, pela força das multis junto ao Executivo Federal, fábricas com capital genuinamente nacional estão sendo obrigadas a fechar as portas no Brasil e transferir para o Paraguai os empregos dos que serão demitidos aqui.
(Por Francisco Simeão*,
Ambiente Brasil, 19/07/2007)
(*) Presidente da Abip – Associação Brasileira da Indústria de Pneus Remoldados e da BS Colway.