Estou agora em Cobija, a capital do departamento de Pando, na Bolívia, comprando algumas muambinhas. Acabo de percorrer o trecho da BR-317, entre Rio Branco e Brasiléia, para fotografar o avanço descontrolado da cana-de-açucar na região onde Chico Mendes e os seringueiros enfrentaram os fazendeiros nos anos 70 e 80.
O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes disse ao jornal O Globo (leia abaixo) que o governo vai proibir o plantio de cana-de-açúcar na Amazônia e no Pantanal.
Etanol na AmazôniaPor Eliane Oliveira e Luiza DaméGoverno reage a pressões e decide proibir plantio de cana na Amazônia e no Pantanal. Biocombustível será realidade inexorável em 20 anos e terá status de soberania, diz Lula.
O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, disse terça-feira (17/07) que o governo vai proibir o plantio de cana-de-açúcar na Amazônia e no Pantanal. A restrição faz parte do novo zoneamento agrícola, que ficará pronto em um ano e cujo objetivo é disciplinar a cadeia produtiva de álcool, desde o cultivo da cana até a instalação de usinas. Além disso, é uma resposta do governo às pressões de governos e empresas de diversas partes do mundo por causa da forte expansão do mercado de etanol, que o Brasil lidera. - Vamos proibir qualquer possibilidade de plantação de cana na Amazônia, no Pantanal, e em outras regiões que ainda estamos analisando. Essa é uma decisão de governo, disse o ministro.
Segundo Stephanes, o mapeamento trará também incentivos fiscais aos produtores que derem preferência ao plantio de cana em áreas de pastagem degradadas. A proibição, no entanto, não terá caráter retroativo. Isso significa que usinas já instaladas na Amazônia e no Pantanal tendem a permanecer. São exemplos uma usina construída no Acre e três em Mato Grosso.
Mesmo assim, os empresários deverão ter dificuldades para obter o certificado socioambiental, acredita o ministro da Agricultura.
Outra medida diz respeito ao controle de toda a cadeia produtiva: só ficará no mercado quem apresentar um certificado socioambiental, comprovando que os negócios não afetam o meio ambiente nem são alimentados por trabalhadores escravos ou que exerçam suas funções na lavoura em condições insatisfatórias. O documento será exigido em todas as etapas de produção e também na exportação.
Evitar os erros da borrachaO presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou terça-feira (17/07) que o biocombustível será uma realidade inexorável em 20 anos, e que o Brasil estará na liderança desse processo, apesar dos protestos de outros países. Segundo Lula, o governo deverá transformar a política de biocombustíveis numa questão de soberania nacional, para evitar o que ocorreu no auge da exploração da borracha, quando apenas a elite se beneficiou dos lucros. - Estou pensando até em dar o status de soberania nacional à questão do biocombustível. Não podemos brincar com isso, nem permitir que aconteça conosco o que aconteceu com a borracha - disse. - Como não tinha um projeto estratégico de nação, era apenas uma coisa momentânea daqueles que querem ganhar dinheiro com muita rapidez, a borracha foi embora, e o Brasil perdeu importância, perdeu hegemonia, e ficamos sem tirar proveito daquele momento extraordinário.
O presidente lembrou que apenas a elite se beneficiou do ciclo da borracha, no final do século XIX. E ainda brincou com a situação: - Era uma chiqueza! Hoje ninguém dá importância, mas entre o final do século XIX e o começo do século XX, a elite brasileira, que saía do Sul para tomar conta da borracha no Amazonas, mandava lavar a roupa em Paris. Eram seis meses para ir e para voltar. Imaginem o cidadão ficar esperando uma cueca seis meses, e naquele tempo era ceroulão, era mais complicado, imaginem isso.
(O Globo / Blog Altino Machado /
Amazonia.org, 18/07/2007)