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2007-07-19
Os trabalhadores que vão procurar empregos para a anunciada construção da siderúrgica chinesa Baosteel não vão conseguir, e os que forem dispensados após a construção vão criar novas áreas de invasão no sul do Espírito Santo. E o caos da segurança pública na região aumentará, piorando o já precário atendimento em saúde. Sem considerar o crescimento das doenças causadas pela poluição.

Essa é a avaliação do ambientalista Bruno Fernandes da Silva, presidente do Grupo de Apoio ao Meio Ambiente (Gama), com sede em Anchieta. O governo do Estado anunciou que na segunda-feira (16) foi assinado um acordo entre o Espírito Santo e China, em Xangai, para a construção de uma usina siderúrgica no sul.

A usina chinesa será instalada no pólo industrial em Anchieta, no sul do Estado. Segundo o acordo, o maior grupo siderúrgico chinês, em parceria com a Companhia Vale do Rio Doce, será responsável pela implantação de siderúrgica com capacidade de produção de 5 milhões de toneladas/ano de placas de aço em sua primeira fase, voltada para exportação.

Mas já são anunciados estudos para uma possível expansão da usina, que no total terá capacidade produtiva de 10 milhões de toneladas/ano de placas de aço.

O governo anuncia que a siderúrgica chinesa irá gerar 21,5 mil empregos - 18 mil na construção e 3,5 mil na operação.

A região sul do Estado já tem problemas demais, como ressalta o ambientalista Bruno Fernandes da Silva. Ele afirma que "o Estado não manda policiais. Não há segurança em Anchieta e Guarapari". E acrescenta que a situação ficará ainda pior.

Vai piorar porque, com o anúncio da criação de empregos para a construção da usina, haverá na região sul um grande deslocamento de trabalhadores de todo o País para a região. Os empregos não vão dar para todos, e depois da construção milhares de operários serão demitidos.

Bruno Fernandes da Silva aponta que a construção da Samarco já levou à criação de ocupações na região de Guanabara e Ubu. "Os desempregados vão ocupar outras áreas e criar bolsões de pobreza. A situação será ainda pior para muitas pessoas", afirma o ambientalista.

A situação da saúde em Anchieta só não é pior porque no município funciona um pequeno hospital administrado pelo Movimento de Educação Promocional do Espírito Santo (Mepes). Mesmo assim, ser atendido na rede pública de saúde é difícil para os trabalhadores.

Para o presidente do Gama, haverá complicação ainda pelos efeitos da poluição. Nos bairros de Mãe-Bá, Recanto do Sol, Parati e Ubu é grande a incidência de doenças alérgicas e respiratórias. Com mais produção, haverá mais poluição.

"Não sabemos a quantidade dos problemas, pois estudo realizado por exigência de uma condicionante à Samarco foi engavetado pela presidente do Iema. A Glorinha (Maria da Glória Brito Abaurre) se reuniu com a Cepemar e com a Samarco e deu como atendida a condicionante. Não divulgaram os resultados do estudo, o que é um absurdo", afirma o ambientalista Bruno Fernandes da Silva.

Para o ambientalista, a situação da região vai degringolar. Diz: "Vamos precisar de mais hospitais, mais escolas, mais segurança. E nada disso será construído. O que vamos registrar, mesmo, é o aumento da poluição".

Siderúrgica em Ubu, repeteco da CST

A construção da Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST), hoje empresa do grupo ArcelorMittal, no Planalto de Carapina, foi uma estratégia do Capital internacional para evitar críticas ao processo produtivo de aço tanto nos Estados Unidos da América como na Europa. Na época, se fortificavam as denúncias contra as empresas siderúrgicas.

Então foi decidido que a parte mais poluente da produção siderúrgica devia ser transferida para os países emergentes, à época chamados subdesenvolvidos, como o Brasil e a Coréia. Uma siderúrgica de grande porte também foi instalada na Coréia nesta ocasião.

Em 2007, a China suplantou os Estados Unidos da América como o país que mais polui no planeta, produzindo principalmente os chamados gases do Efeito de Estufa, que produzem o aquecimento global.

A instalação da mega siderúrgica da Baosteel em Ubu vem exatamente neste contexto. O consumo de aço no país é crescente, como são crescentes as criticas ao país pela grande poluição que produz. Daí a decisão de poluir, mas no Brasil.

O governo do Estado anuncia que a siderúrgica produzirá para exportação. O que traz um outro complicador: apesar da devastação ambiental e social que produzirá, a empresa não irá gerar impostos para o Estado e a União, pois os produtos de exportação são desonerados.


(Por Ubervalter Coimbra, Século Diário, 19/07/2007)

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