Celso Amorim disse que hidrelétricas não vão atrasar por causa da BolíviaParlamentares dos Departamentos de Beni e Pando, na Bolívia, vão apresentar ao Parlamento Amazônico uma queixa contra o Brasil sobre a construção das hidrelétricas do rio Madeira (RO). A deputada Marisol Abán, do MNR (Movimento Nacionalista Revolucionário), alega que as obras provocarão inundações em 530 quilômetros quadrados da região de fronteira. Segundo a deputada, também será pedido o comparecimento do embaixador do Brasil na Bolívia, Frederico Cezar de Arauco, como "convidado", para explicar detalhes do projeto ao Parlamento Amazônico.
O Senado da Bolívia deverá convocar ministro das Relações Exteriores boliviano, David Choquehuanca, para ser sabatinado sobre o "excessivo atraso e negligência" ao lidar com o assunto. O Parlamento Amazônico, fundado em 1989, é formado pelos congressos nacionais de Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela.
Na semana passada, Choquehuanca solicitou a seu colega brasileiro, Celso Amorim, uma reunião "o mais cedo possível" para discutir a autorização ambiental concedida para a construção de duas hidrelétricas - a de Santo Antônio, de 3.150 MW, e a de Jirau, de 3.300 MW - no rio Madeira.
O ministro boliviano classificou a situação como "preocupante" porque "não há os estudos de impacto ambiental" necessários para se dizer precisamente o que ocorrerá com a flora e a fauna no lado boliviano. O senador Roger Pinto, do opositor Podemos (Poder Democrático e Social), disse que a exigência de Choquehuanca ao Brasil foi "péssima e excessivamente tardia", uma vez que o país já havia anunciado há um ano e meio a decisão de construir as represas.
Questão de soberaniaEm resposta à solicitação boliviana de uma reunião para tratar das preocupações do governo do país vizinho sobre as obras, o Itamaraty informou na sexta-feira que já enviou à Bolívia uma carta em resposta ao pedido de Choquehuanca. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse que a construção das usinas é uma "questão de soberania nacional" e não vai atrasar por causa do descontentamento do governo da Bolívia.
A diplomacia brasileira disse à Folha Online, também na sexta-feira, que dará todas as informações necessárias à Bolívia a respeito dos impactos ambientais que serão causados pela construção das usinas, mas que não há data prevista para o encontro solicitado pelo ministro boliviano.
O Madeira, um afluente do rio Amazonas, concentra quase todas as águas da metade Norte da Bolívia e é apontado como uma importante via de transporte, que liga a cordilheira dos Andes ao oceano Atlântico
(Por Valter Campanato/
ABr, A Crítica, 18/07/2007)