Levantamento científico coordenado por um grupo de pesquisadores formado por Maria das Graças Barbosa (FMT-AM), Nelson Fé (FMT-AM), Flávio Augusto Fé (FMT-AM) e Iria Rodriguez (FMT-AM), além de Clarice Ciriano (Esbam) e Márcia Helena Almeida (Esbam), constatou que as ações de dragagem e remoção de residências em diversas áreas de Manaus, executadas pelo governo do Estado na capital, por meio do Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus (Prosamin), não surtiram efeito no que tange à incidência de mosquitos transmissores de doenças tropicais.
De acordo com relatório dos pesquisadores, a espécie de mosquito mais freqüente na observação foi a Culex quinquefasciatus, a popular carapanã de beira de igarapé. Segundo dados da pesquisa, a Culex vem se mostrando mais comum, em média, nas bacias de Educandos e Quarenta (zona sul), Mindu (zona centro-sul) e Franceses (zona centro-oeste) — onde ocorreram as coletas para o estudo em laboratório.
Além disso, segundo relatório da pesquisa, esse tipo de mosquito consegue se reproduzir com bastante facilidade, o que dificulta seu combate via políticas públicas de saúde. Até mesmo em águas de tubulações de esgotos públicos, as quais em geral são cheias de dejetos sólidos e líquidos produzidos pela população, percebe-se a reprodução do mosquito.
“Nos igarapés as águas são poluídas, mas o (mosquito) Culex consegue se desenvolver mesmo assim”, reforçou Maria das Graças Barbosa, da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, explicando que a espécie é vetor de males como filariose e diversos tipos de encefalite.
As coletas mensais que subsidiaram o estudo foram realizadas entre os horários de 9h às 11h, sendo que a partir da exploração das áreas os pesquisadores identificaram 49 exemplares de Culicidae (família de mosquitos da ordem díptera, ou seja, que possui um par de asas), distribuídas em dois gêneros e quatro espécies.
O quantitativo indicou que no igarapé do bairro de Educandos houve coleta de 14 exemplares de Culicidae; no igarapé dos Franceses foram coletadas 22 exemplares; no igarapé do Passarinho os pesquisadores coletaram seis exemplares; e demais sete mosquitos foram coletados no igarapé da Cachoeirinha.
Conclusões e fomentoEm suma, o levantamento científico apontou que as mudanças realizadas na estrutura e infra-estrutura da paisagem, por meio do Prosamin, não tiveram correlação positiva frente à possibilidade de eliminação ou diminuição da densidade de mosquitos em áreas de igarapés da capital.
Apesar disso, a pesquisa não sugere críticas ao programa, mas sim sugestões para ações no âmbito das políticas de combate à reprodução das espécies em áreas de periferia, sobretudo, onde há grande acúmulo de água. “São necessárias atividades de conscientização da população”, afirmou a pesquisadora Maria das Graças Barbosa, da FMT-AM, ressaltando que a inauguração do Laboratório de Entomologia da Fundação, prevista para setembro, deve auxiliar em demais atividades científicas.
A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) patrocinou o projeto, que terá os resultados apresentados entre os dias 30 de julho e 3 de agosto, no 16º Congresso de Iniciação Científica da Universidade Federal do Amazonas (Conic/Ufam).
O Prosamim, que começou em janeiro de 2005 e tem previsão para terminar no ano de 2011, visa o saneamento dos igarapés da cidade, o controle do esgotamento sanitário residencial e industrial, o tratamento adequado de efluentes e a melhoria da condição de moradias de Manaus. O programa tem apoio de verbas de ordem internacional.
O que é filarioseA filariose, ou filaríase, é causada por vermes que parasitam os vasos linfáticos do ser humano. No caso brasileiro, ela é ocasionada por helmintos da espécie Wuchereria bancrofti. A infecção ocorre quando mosquitos da espécie Culex quinquefasciatus picam as pessoas e transmitem larvas da W. Bancrofti.
O que são arbovirosesArboviroses são doenças causadas por um grupo de vírus chamados arbovírus, constituindo problemas de importância em todos os continentes onde se apresentam sob forma endêmica ou epidêmica. A febre amarela, por exemplo, é uma arbovirose que a partir do século 17 dizimou vidas em extensas epidemias nas áreas das regiões tropicais.
(Por Renan Albuquerque,
Amazonas Em Tempo, 18/07/2007)