Foi inaugurada no último domingo (15/07) a base de apoio do Parque Nacional (PARNA) do Cabo Orange na comunidade de Cunani, em Calçoene (AP), em comemoração aos 27 anos de criação da unidade. A obra possui uma estrutura composta por duas suítes com quatro leitos cada, cozinha, sala e espaço para guarda de equipamentos, num total de 140 metros quadrados de área construída, ao custo de R$ 191 mil financiados pelo Programa ARPA (Áreas Protegidas da Amazônia). O alojamento possibilitará a permanência de membros da equipe gestora da unidade de conservação na região, no desenvolvimento das atividades de monitoramento.
De acordo com Marcos Cunha, chefe do Parque Nacional do Cabo Orange, a construção do alojamento representou um desafio para todos os envolvidos no projeto, desde as dificuldades de contratação de empresas que se habilitassem a construir no local, devido às condições de acesso a localidade e ao período chuvoso e, ainda, pela necessidade de fortalecer uma relação de parceria com a comunidade do Cunani que, apesar de inserida no interior da unidade, ainda não tinha um diálogo próximo com a equipe do Ibama.
Composta por agroextrativistas e pequenos criadores, a Vila de Cunani está inserida em uma área declarada como remanescente de quilombo, na margem esquerda do rio Cunani, na extremidade sul do Parque. A região é considerada um dos centros arqueológicos do país, na qual foram constatados vestígios de antigas ocupações indígenas, e foi palco de episódios históricos como a “República do Cunany” quando, entre 1885 e 1902, a região tentou afirmar sua independência tanto do Brasil quanto da França, inclusive com moeda e bandeira próprias. Como forma de aproveitar o potencial da região, a comunidade recebeu apoio e contribuição do Ibama na construção de melhorias como parte de um projeto que irá possibilitar a recepção de turistas e visitantes num futuro próximo.
No evento, foram comemorados os dois anos de formação e instalação do Conselho Consultivo do Parque Nacional do Cabo Orange (CONPARNA). Os conselheiros conheceram o extremo sul do Parque e a comunidade de Cunani, sua história, tradições e seu modo de vida. As atividades incluíram visitas à foz do rio Cunani e suas praias, as áreas de cultivo e modo de produção da comunidade, ao monte Curú – local da descoberta dos achados arqueológicos no final do século XIX - e a apresentação de um resumo das principais atividades do Conselho nesses dois primeiros anos. O evento contou com a presença de Marcelo Françozo, diretor de Unidades de Conservação de Proteção Integral do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, e de João Otávio Machado, representante do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO), entre outros convidados.
Santuário Ecológico
Criado através do Decreto nº 84.913, em 15 de julho de 1980, o Parque Nacional do Cabo Orange protege uma área de significativa importância biológica localizada no extremo norte do Estado do Amapá, nos municípios de Oiapoque e Calçoene. Tornou-se uma das maiores áreas marinhas protegidas do país, já que um terço dos seus 619 mil hectares de área é formado por área marinha – são dez quilômetros mar adentro e uma faixa litorânea de 200 quilômetros de extensão - com extensas áreas de manguezais que abrigam a reprodução de espécies da fauna aquática.
O parque protege ecossistemas de importante relevância ecológica, formados por floresta tropical densa, campos limpos, manguezais e manchas de cerrado e terra firme. Graças a essa diversidade de habitat, sua fauna é rica e diversificada, com registros de ocorrência de espécies ameaçadas de extinção, como o peixe-boi marinho e de água doce, sendo um dos poucos locais da presença das duas espécies do mamífero. É visitado por diversas espécies da avifauna migratória e possui grandes ninhais, como os do Marrecal, onde ocorre o nascimento de milhares de aves. A unidade é beneficiada pelo Programa Áreas Protegidas da Amazônia (ARPA), uma iniciativa do Governo Federal coordenada pelo Ministério do Meio Ambiente e Ibama, em parceria com estados e municípios da Amazônia Legal brasileira e doadores internacionais.
(Por Patrícia Sullivan, Ascom Ibama-AP, 18/07/2007)