Regra prevê que, na cidade de São Paulo, construções iniciadas a partirdeste mês devem ter o equipamento instalado Empresas planejam abrir novo turno ou contratar mais funcionários para elevar a produção; previsão é que preço possa até cair
A aprovação da lei municipal que obriga as novas construções paulistanas a terem aquecedores solares deve fazer o faturamento de um mercado concentrado em cem empresas dobrar a partir do ano que vem.
Essa é a expectativa da Abrava (Associação Brasileira de Refrigeração, Ar-Condicionado, Ventilação e Aquecimento), que prevê aumento de 25% no faturamento do setor neste ano, graças à lei 14.459 de 3 de julho de 2007, que exige a instalação do equipamento em novas construções - no caso das residenciais, naquelas que tenham mais de três banheiros. No primeiro trimestre, a expansão foi de 12%.
O impacto mais elevado deve ficar com as três maiores empresas do setor, que
têm cerca de 30% do mercado nacional, segundo a Abrava. Os próprios empresários dizem que há capacidade de expansão, mas restrita a quatro ou cinco fábricas.
"Temos capacidade de dobrar a produção em pouco tempo, mas poucas conseguem
isso", diz Jayme Sillos, gerente de vendas da Heliotek, uma das líderes do setor.
A lei fez a expectativa de aumento de faturamento da Heliotek subir de 10% para 20%. "A legislação vai acelerar nosso crescimento, devemos dobrar a base de clientes", diz Sillos.
A empresa, que diz ter 30% do mercado paulistano de aquecedores, espera quintuplicar os 50 mil equipamentos instalados hoje em cinco anos.
Também devido à lei, a Transen, a maior do setor de acordo com a Abrava, está contratando 30 funcionários - hoje são 170 - para aumentar a produção entre 20% e 40%. "São Paulo deve ser 20% do faturamento da Transen em dois anos, participação que só era esperada em quatro anos", diz seu vice-presidente, Edson Pereira.
A Heliotek não prevê contratar mais funcionários, mas adicionar um turno de produção em no máximo oito meses, quando espera que o mercado comece a
reagir à lei.
SetorDe acordo com o diretor do departamento nacional de aquecimento solar da
Abrava, Carlos Felipe da Cunha Faria, o setor é concentrado geograficamente
porque precisa estar próximos aos clientes.
O Estado de São Paulo reúne 50 das 100 fábricas de aquecedores do país, mas
a maior parte é de pequenas e médias indústrias, segundo Faria.
Apesar da concentração estadual, a cidade de São Paulo tem apenas dez edifícios com aquecimento solar, perdendo para Belo Horizonte na relação entre área instalada de aquecedores e o número de habitantes. Para Faria, a aprovação da lei deve fazer essa condição mudar nos próximos anos.
A capital paulista tem hoje 1,2 m2 com aquecimento solar para cada 100 mil habitantes. Em Belo Horizonte, essa relação é de 14 m2 por 100 mil.
Outra mudança que deve ocorrer no mercado paulistano é o aumento do peso da indústria no setor. No país, o segmento é responsável por 20% dos aquecedores instalados, contra uma participação de 80% das residências.
A tendência é que os números fiquem mais equilibrados em São Paulo, já que a
lei obriga a instalação de aquecedores em clubes de lazer, hospitais, hotéis
e academias, que têm pouca participação no mercado, segundo Faria.
PreçosMesmo com a maior demanda, não deve haver aumento de preços porque há capacidade produtiva ociosa na indústria, segundo Faria. "As empresas estão usando em torno da metade da capacidade produtiva e ainda têm opção de aumentar o número de turnos." Para ele, pode até haver queda nos preços, já que a escala de produção dos componentes crescerá, como de tubos de cobre.
Segundo o presidente do Sindicel (Sindicato da Indústria de Condutores Elétricos, Trefilação e Laminação de Metais Não Ferrosos do Estado de SP), Sergio Aredes, os tubos são mais da metade do custo dos aquecedores. Para ele, os preços só devem subir se houverem pressões de cotações internacionais, já que há espaço para expansão da produção em até 30%.
(Por Simone Cunha,
Folha de São Paulo, 14/07/2007)