De tanto perambular pelas esquinas e praças de Casca, no norte do Estado, Joe já era figura conhecida no Centro. As ruas da cidade se tornaram a extensão da casa do dachshund teckel - o popular lingüicinha - de pêlo preto. Suas brincadeiras acabaram na quinta-feira. Joe integra uma lista de mais de cem cães e gatos domésticos e de rua, mortos por envenenamento nos últimos dois anos.
O mistério dos envenenamentos vem assustando donos de cães e gatos do município de 8,7 mil habitantes. Por volta das 15h30min de quinta-feira, a dona de Joe, a estudante Michele Tedesco, 17 anos, notou que seu cãozinho de sete anos estava agitado e agressivo. Meia hora depois, ele morreu, no pátio de casa.
O promotor público Damasio Sobiesiak aguarda um requerimento, que deverá ser enviado pela população, para definir a abertura de um inquérito. A suspeita é de que moradores tenham formado uma espécie de grupo de extermínio de animais.
Além de lamentar a morte dos mascotes, a população teme pelas crianças, especialmente as que têm animais. Pedaços de carne, salsichas e até mesmo um bombom de chocolate envenenados com estricnina - bastante usado para matar ratos - foram encontrados em pátios e calçadas.
A estricnina atinge o sistema nervoso dos animais, causando rigidez muscular e paralisia respiratória, o que leva à morte. Nos seres humanos, pode provocar reações semelhantes, em dosagens mais altas.
- O que nos preocupa é a possibilidade de alguma criança ingerir uma substância venenosa - diz o promotor.
O responsável pelas mortes pode ser enquadrado no artigo 64 da Lei de Contravenções Penais, que prevê prisão de 10 a 30 dias ou multa por ministrar substância venenosa a animal inofensivo, causando-lhe sofrimento e morte.
Médica veterinária há cinco anos em Casca, Fabíola Zucchetti Migliavacca, 27 anos, já atendeu dezenas de animais intoxicados, muitos em estado terminal. Entre eles estavam Joe.
- Acredito que um dos grandes problemas está na venda indiscriminada de veneno - afirma.
O motorista Henrique Sander, 30 anos, vive dupla preocupação. A filha, Nayara, cinco anos, não desgruda da poodle Princesa. Ele procura manter ambas o maior tempo possível dentro de casa. Apesar da pouca idade, a menina diz estar mais atenta aos hábitos de sua poodle:
- Cuido para a Princesa não comer nada estragado.
(Por Cleber Bertoncello,
ZH, 18/07/2007)