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emissões de gases-estufa emissões de co2
2007-07-18
Segundo especialista, o debate entre países sobre redução de emissões de CO2 acabará deixando de lado aspectos científicos

Uma das principais personalidades no debate sobre mudanças climáticas no mundo, Rajendra Pachauri teme que as decisões dos governos ao lidar com as emissões de CO2 serão baseadas em aspectos políticos, e não nas evidências científicas. Em declarações ao Estado, Pachauri, presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), prevê uma dura disputa diplomática entre países nos próximos meses para se determinar de que forma a comunidade internacional enfrentará as mudanças climáticas.

Em setembro, líderes de todo o mundo se reúnem na sede da ONU. O Brasil vai integrar o grupo de pressão contra a intenção de países ricos de impor metas de corte de emissão de poluentes pelos países emergentes. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve propor que países desenvolvidos tenham medidas de estímulo financeiro para emergentes que já têm políticas de redução de desmatamento. Em dezembro, haverá outra conferência, em Bali.

Segundo Pachauri, as evidências são claras: os efeitos do clima atingirão todo o mundo e, em especial, as populações mais pobres. “A agricultura de muitos países sofrerá e os alimentos ficarão mais caros.” Eis os principais trechos da entrevista:

Dados da ONU apontam que os países emergentes começam a se equiparar em termos de emissões de CO2 com os países ricos. Mas Brasil, China e Índia são contrários ao estabelecimento de um teto em suas emissões. Como o senhor avalia a situação?
Esse é um tema que os negociadores terão de decidir. Não vou sugerir políticas. Mas, sinceramente, o processo ainda não chegou ao estágio de se estabelecer um teto para as emissões. Antes de fazer isso, os países precisam chegar a um acordo sobre qual deve ser a temperatura de equilíbrio que o planeta precisa para se estabilizar. Só então é que os governos irão tomar decisões sobre como devem ficar os níveis de emissões de CO2. Alguns defendem que os países emergentes congelem suas emissões, enquanto os países desenvolvidos continuam em seu trágico percurso. Outros falam em convergência. Na minha opinião, essa questão será o centro das negociações nos próximos meses. A decisão, porém, não será científica.

Qual será a base da decisão?
Política. Os governos terão de avaliar como querem compartilhar a responsabilidade em manter o clima do planeta.

O Brasil já indicou que irá apresentar uma proposta na reunião da ONU em setembro e na conferência sobre o clima em dezembro para criar uma espécie de mecanismo internacional para ajudar financeiramente os países em desenvolvimento a evitar o desmatamento de suas florestas. Quais são as chances de a proposta prosperar?
De fato o Brasil está sendo agressivo nessa proposta e o tema promete estar entre os principais da agenda. Tenho informações de que muitos países são favoráveis a ela. Mas uma resistência será colocada contra a idéia por parte de alguns países ricos. O que vão questionar é como monitorar esse reflorestamento ou desmatamento que ocorra. Mas acredito que já existam tecnologias suficientes para que esse monitoramento possa ser feito. De qualquer forma, essa é uma das incertezas que a proposta brasileira enfrentará nas próximas reuniões e que alguns países usarão para argumentar contra ela.

Para os países em desenvolvimento, quais devem ser os impactos de uma brusca mudança no clima?
Os mais afetados serão sempre os pobres. Mas um aspecto importante ainda é o impacto na agricultura de uma elevação das temperaturas e de condições extremas, como secas mais intensas ou tempestades. Muitos que têm suas vidas dependendo do meio rural poderão ser duramente afetados. Os estoques de alimentos podem cair, como já vemos em algumas regiões. Isso ainda fará com que os preços de alimentos subam. Parte dessa população terá de partir para cultivos que possam resistir a condições mais adversas.

Nessa situação de falta de alimentos ou alta nos preços, como avalia o avanço da produção de milho para alimentar as usinas de etanol nos EUA?
De fato há uma grande preocupação em relação a isso. Se houver uma competição por terras entre o combustível e alimentos, quem sairá perdendo será a população mais pobre. Em uma estratégia de uso de biocombustíveis, o aumento da população mundial nos próximos anos precisa ser considerado.

Quem é: Rajendra Pachauri
Indiano, tem 66 anos e foi eleito presidente do IPCC em abril de 2002

Tem mestrado e doutorado em engenharia industrial e doutorado em economia pela Universidade Estadual de Carolina do Norte (EUA)

Foi ministro do Petróleo e Gás Natural da Índia em 1994 e é presidente do Instituto Asiático de Energia desde 1992

(Por Jamil Chade, Estado de S. Paulo, 18/07/2007)

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