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emissões de gases-estufa desmatamento protocolo de kyoto
2007-07-18
Os sinais são claros: estamos na iminência de uma nova onda verde. Desta feita, a consciência ambientalista veio para ficar. O compromisso com o meio ambiente e com a redução das emissões de gases de efeito estufa deverão incorporar-se à nossa visão de mundo, à nossa forma de ser, de produzir, de votar ou de consumir.

As razões são muitas. Em primeiro lugar, estão as evidências científicas, analisadas pelo Painel Intergovernamental sobre as Mudanças Climáticas (IPCC), que deixam pouca margem a dúvida sobre o aumento da temperatura, sua origem na emissão de gases-estufa e seu impacto devastador sobre países, populações, flora, fauna e agricultura. As conclusões deste grupo de 2 mil cientistas, convocados pela ONU sinalizam que, se estas emissões não se estabilizarem até 2015, para em seguida se reduzirem progressivamente de 50% a 80% até 2050, o aumento da temperatura deverá superar 2 graus Celsius, patamar em que o ritmo do aquecimento global deverá acelerar-se, tomar rumos imprevisíveis e certamente mais graves.

O segundo argumento é econômico e está associado ao aumento do preço de petróleo e à necessidade de desenvolver fontes alternativas e renováveis de energia. É o caso, por exemplo, do etanol. O argumento econômico aponta igualmente para os ganhos que novas tecnologias para maior eficiência na produção e no gasto de energia poderão trazer ao setor produtivo. Uma política industrial de caráter ambiental poderá representar - e em alguns casos já é - importante fonte de geração de riquezas.

Mais recentemente, uma motivação política se adicionou aos argumentos precedentes. Foi a percepção, por parte dos Estados Unidos, de que estavam financiando os dois lados do terrorismo: de um lado, ao comprar petróleo a um preço elevado estavam indiretamente subsidiando movimentos terroristas - a Arábia Súdita representa apenas 1% da população muçulmana, mas contribui com 90% dos recursos destinados aos movimentos e à luta pela causa islâmica; de outro, com o dinheiro do contribuinte cobriam o esforço militar para combatê-lo.

Por fim, o ambientalismo tornou-se uma importante causa moral, com poderosos apóstolos. Bono, o lendário integrante do U2, agradeceu recentemente, perante uma platéia de alguns milhares de adolescentes, a um empresário do Silicon Valley por ter destinado US$ 200 milhões a incubadoras de tecnologias limpas. O príncipe Charles, por sua vez, conclamou a Wall Mart e a Tesco, duas prestigiosas redes de distribuição mundiais, a colocarem etiquetas em seus produtos com a indicação da origem e do processo de produção da mercadoria, de modo a evitar que o consumidor gaste o seu dinheiro em beneficio de países ou produtores ambientalmente incorretos.

Estamos assistindo a uma acirrada competição entre países, empresas e indivíduos para ver quem é mais verde. Que governo assumirá metas mais ambiciosas para a redução de gases-estufa? Quem criará impostos para quem polui ou dará subsídios a quem produz com tecnologias limpas? Schwarzenegger, na Califórnia, fixou uma meta de redução de 20% nas emissões de carbono até 2020 e de 80% até 2050. Delanoë já começou a distribuir dezenas de milhares de bicicletas nas bocas de metrô em Paris, para que a população deixe os carros em casa. E Ken Livingstone estabeleceu um pedágio equivalente a R$ 30 por dia para os carros que circularem no centro de Londres.

E nós como estamos? Somos pioneiros no desenvolvimento de uma modalidade de bioenergia - o etanol - que já responde por 40% do combustível utilizado no transporte. Nenhum país chegou a tanto. Temos uma matriz energética limpa. Mas nossos méritos parecem parar por aí. Hoje nos tornamos o quinto emissor de dióxido de carbono, que não provém da indústria nem dos transportes, como na maioria dos países avançados. No Brasil, 75% das emissões decorrem do desmatamento da Amazônia.

No momento em que todos querem pintar-se de verde, temos no meio ambiente um inigualável patrimônio. Como tem reiterado o embaixador Ricupero em diversos artigos, o Brasil conta com a maior floresta tropical do planeta, um dos principais reservatórios de água doce, biodiversidade riquíssima, equação energética limpa e a melhor experiência em biocombustível.

Para tirar proveito destas vantagens o Brasil precisa abandonar resistências e hesitações, deixar de ver a agenda ambiental sob o prisma das relações Norte-Sul, para poder assumir plenamente as suas responsabilidades. Baixar definitivamente as taxas de desmatamento da Amazônia, anunciando medidas efetivas, em vez desculpas. No lugar de uma aliança implícita com os Estados Unidos sobre uma má causa, como ocorreu na recente reunião do G-8, aceitar metas quantitativas para a redução dos gases-estufa, pois, se que quem polui paga, já temos uma boa dívida para saldar. Pesquisar a biodiversidade, desenvolver a biotecnologia, promover uma política industrial da eficiência energética. E adotar uma postura nova sobre a chamada cláusula ambiental. Se, de um lado, não queremos que a proteção do meio ambiente se torne pretexto para o protecionismo, de outro, produtores e consumidores brasileiros não desejam assistir à invasão de produtos, provenientes sobretudo da Ásia, fabricados sem o respeito a regras ambientais mínimas.

A complacência com a poluição e com o aquecimento global colocarão países e empresas num ostracismo perante a comunidade internacional. Não temos razão para fugir de nossas responsabilidades. Ao contrário, temos condições para assumir uma liderança real e apontar os caminhos em relação a um dos mais importantes temas da agenda internacional no século 21. Não podemos perder esta oportunidade.

(Por Sergio Amaral*, Estado de S. Paulo, 18/07/2007)
*Sergio Amaral, diretor internacional da Faap, é coordenador dos Conselhos Superiores da Fiesp


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