A energia gerada a partir de usinas de biomassa - principalmente as que processam o bagaço da cana-de-açúcar - pode ser a principal solução para que se evite um novo racionamento de energia nos próximos anos. Essa é uma das conclusões de um estudo do Instituto Acende Brasil e da consultoria PSR, apresentado ontem (17/07) em Brasília.
O estudo indica que, mesmo se não houver nenhum atraso nas obras em andamento, se a economia brasileira crescer a uma taxa anual de 4,8%, ficariam faltando, em 2011, 3.100 megawatts (MW) médios em "energia firme" para atender à demanda do País.
Energia firme é o termo usado para definir a quantidade de energia que uma usina consegue oferecer de modo sustentável. Por isso, a "energia firme" é sempre menor do que a capacidade nominal da usina. Por exemplo, no caso da usina de Santo Antônio, a ser construída no Rio Madeira, a capacidade instalada é de 3.150 MW, enquanto a energia firme da usina deverá ficar na casa dos 2.044 MW médios.
O consultor Mário Veiga, da PSR, disse que essa previsão do déficit de 3.100 MW médios em 2011 não leva em conta os leilões de energia que serão realizados neste ano e em 2008 para entrega de energia a partir de 2010 e 2011, respectivamente.
Incluindo a previsão mais otimista desses leilões, segundo Veiga, na qual seriam injetados no sistema mais 1.603 MW médios, ainda assim ficariam faltando 1.497 MW médios para cobrir o déficit.
Uma das soluções apresentadas pelo estudo Acende Brasil/PSR seria o governo destravar os projetos de geração de energia com bagaço de cana-de-açúcar. Segundo as duas instituições, existe hoje um potencial de geração de 1.800 MW médios em novas usinas de álcool que estão sendo instaladas em Goiás e Mato Grosso do Sul.
A maior parte dessas usinas deverá ser construída até 2010 - a tempo, portanto, de entregar sua energia ao sistema antes dos períodos mais críticos - mas, segundo o estudo, elas estão tendo dificuldades para vender a energia que geram a partir do bagaço da cana, porque não conseguem acesso ao sistema de transmissão. Sem esse acesso, elas não conseguem transportar o que poderiam vender. "Temos de desovar esses 1.800 MW médios de biomassa, ou, depois, teremos de gerar essa energia por meio de usinas mais caras, como as movidas a óleo combustível", alertou Veiga.
(Por Leonardo Goy,
Estadão, 17/07/2007)