Ao redor da mesma mesa virtual, representantes governamentais -como Holanda e Suíça-, do setor privado -por exemplo Shell e Toyota-, das universidades e das ONGs. Tudo isso para no máximo até meados de 2008 um manual do biocombustível sustentável internacional ficar pronto.
"A minuta do documento está acertada. A intenção é abordar toda a cadeia de produção dos biocombustíveis, incluindo os aspectos ambientais, sociais, econômicos e também políticos", disse à Folha o ambientalista Roberto Smeraldi.
Ele, representando o Brasil, é um dos 20 membros do seleto grupo que vem se reunindo há alguns meses por meio de teleconferência para a montar a cartilha.
Ildo Sauer, diretor da Gás e Energia da Petrobras, é o outro brasileiro que também participa dos encontros.
"Nós acreditamos que esse documento, como está sendo negociado por vários atores, de diversos países, terá um peso importante. Ele deverá servir como um balizador do comércio dos biocombustíveis", disse Smeraldi.
De acordo com o relato feito pelo representante brasileiro, a mensagem que tem saído das reuniões é bem clara. "Toda a cadeia precisa ser analisada. Qual é o impacto ambiental? E o social? Determinado produtor, por exemplo, usa trabalho escravo? Não contamina nada?"
Todos os princípios básicos do texto que voltará a ser discutido nas próximas reuniões, segundo Smeraldi, estão definidos. "Essa unanimidade chegou a ser surpreendente", diz.
De forma resumida, os parâmetros essenciais do texto já discutido estão agrupados em quatro conjuntos.
Todo o biocombustível comercializado, portanto, vai precisar respeitar as leis nacionais (terras ilegais, por exemplo, são vistas como um problema), a baixa emissão de gases-estufa, os impactos ambientais locais (poluição da ar, da água e do solo) e os impactos sociais (transferência de recursos para as comunidades rurais precisa ser uma realidade).
A partir dos princípios, os critérios e os indicadores dentro dos grupos serão então desenvolvidos, segundo Smeraldi. "Esse detalhamento será feito pelos especialistas. Haverá formas claras de medir se os princípios estão ou não sendo respeitados. Essa é a nossa intenção".
Um dos exemplos já prontos é o caso do uso sustentável da água. Dentro desse princípio entram os critérios da contaminação e do desperdício. Uso de pesticidas e produtos químicos em geral, de forma indiscriminada, é um dos critérios que será usado para certificar, ou não, a sustentabilidade hídrica da produção do combustível.
"Todas essas regras precisam ter uma validade mundial", lembra Smeraldi.
(Por Eduardo Geraque,
Folha de S. Paulo, 18/07/2007)