"Meu sentimento é de luto e impotência diante da perspectiva da destruição de Anchieta, com todo o seu patrimônio paisagístico e ecológico, sua riqueza hidrográfica, seu potencial turístico e seu clima". A declaração é de Ilda de Freitas, do Movimento Pró-Gaia, sobre o Pólo Industrial de Anchieta, com o qual o governo do Estado beneficia os chamados grandes projetos, inclusive com dinheiro público.
Segundo Ilda, o projeto vai contra as novas propostsa de preservação ambiental e de incentivo ao turismo que são defendidas nos países mais desenvolvidos. Numa época em que o mundo procura novos destinos ambientais e turísticos, diz ela, o município assistirá à destruição de tudo.
No município serão desapropriados 2,5 mil hectares para a implantação de um pólo industrial. No local serão instalados mais três unidades de pelotização da Samarco Mineração, um terminal portuário e uma unidade de tratamento de Gás (UTG) da Petrobras, a ferrovia litorânea da Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST) e uma nova siderúrgica, a chinesa Baosteel.
A previsão é que a região conheça as mesmas situações ambientais e sociais ocorridas na Grande Vitória com o conglomerado de usinas de pellets e o complexo siderúrgico de Tubarão.
As últimas notícias sobre a criação do pólo industrial de Anchieta e sua expansão chocaram os ambientalistas. E não só eles, mas "qualquer cidadão que escape da manipulação mental imposta pelas mega-empresas e seus aliados políticos", nas palavras de Ilda de Freita, que completa: "Aqui, o velho ditado que diz 'em terra de cego quem tem um olho é rei' sofre uma inversão radical. Certo seria: em terra de cego quem tem olho é minoria e minoria pode ter razão, mas não tem poder."
Nesse contexto, ressalta a ambientalista, foram criados as pseudo-democracias, as pseudo-políticas de proteção ambiental, o pseudo-progresso, as pseudo-preocupações com o futuro.
Para os moradores da região de Ubu que convivem com o estrago já causado pela Samarco na região, a luta contra o empreendimento é tida como perdida. Carentes de respostas e de respeito, eles estão sem esperança.
Além do estrago ambiental, o pólo ocasionará inchaço populacional que irá além de Anchieta, atingindo Guarapari e Piúma, com sobras para outras regiões próximas, como Alfredo Chaves, Iconha e Rio Novo do Sul. Só Anchieta, hoje com 21 mil habitantes, terá nos próximos dez anos mais 45 mil habitantes.
Nenhum trabalho na área social vem sendo desenvolvido no município e a previsão dos moradores é que a região se torne um pólo de problemas semelhantes aos de Macaé, no Rio de Janeiro. Moradores afirmam que haverá problema de violência, prostituição, drogas e agravamento das questões de saúde, entre outros.
Mesmo sem ouvir a população, o secretário de Estado de Desenvolvimento, Guilherme Dias, assinou, nessa segunda-feira (16), em solenidade em Xangai, na China, um acordo com a Baosteel para a construção de uma usina siderúrgica no Pólo Industrial e de Serviços em Anchieta. Nos próximos dois meses, a empresa abrirá um escritório em Vitória, já constituindo a empresa para detalhamento do projeto.
(Por Flávia Bernardes,
Século Diário, 18/07/2007)