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angra 3
2007-07-18
A intenção do presidente Lula de investir em energia nuclear atrai olhares enviesados da Europa. Analistas dizem que a aposta poder ser um mau negócio, tanto em termos ambientais quanto financeiros

As decisões de retomar a construção da usina nuclear Angra 3 e de tirar do papel um submarino nuclear reivindicado pela Marinha Brasileira, reiteradas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na semana passada, tiveram repercussão na mídia alemã.

A versão online da revista Der Spiegel chegou a comparar Lula ao presidente iraniano Mahmud Ahmadinejad, já que os dois apresentariam o mesmo argumento:
o de querer apenas ampliar a produção de energia nuclear, e não produzir armas nucleares.

Para o especialista em América Latina Günther Maihold, vice-diretor da Fundação Ciência e Política (SWP), em Berlim, essa foi apenas uma comparação infeliz. Ele diz que o Brasil não precisa de energia nuclear para se desenvolver. "O país tem muitas outras fontes de energia e, sob o ponto de vista europeu, certamente faria melhor se investisse em energias renováveis, como hidroeletricidade".

Uma das riquezas naturais do Brasil, porém, são justamente as reservas de urânio. E é apenas compreensível, de acordo com Maihold, que agora o país queira aproveitá-las – principalmente diante da crescente demanda energética no país, da escassez energética que se projeta para os próximos anos e da crise no setor que já se faz notar na Argentina e no Chile.

Potência nuclear
A opção pela energia nuclear, no entanto, não é restrita meramente ao planejamento energético. Tem também forte cunho político. "É obviamente interessante para o Brasil se apresentar como foco de alta tecnologia e aproveitar a chance de se distinguir como potência que domina o uso de energia nuclear ", diz Maihold.

Se levar adiante os planos de ampliar a produção de energia nuclear, alerta ele, será decisivo que o país permaneça aberto à fiscalização internacional e permita inspeções das autoridades do setor. "Os investimentos diretos em energia nuclear não são muito mais elevados do que numa grande hidrelétrica. O verdadeiro custo são os perigos que podem surgir dela. O enriquecimento do urânio, o reprocessamento, o armazenamento de lixo atômico e sobretudo riscos causam os principais custos", afirma o perito.

Investimento alto demais?

Mesmo quando se faz uma análise puramente econômica, no entanto, os custos não compensariam: retomar a construção da usina nuclear Angra 3, que está parada desde 1986, seria apenas um mau investimento. A análise é de José Goldemberg, que foi ministro da Ciência e Tecnologia durante o governo Collor – justamente quando o programa nuclear planejado durante os governos militares foi deixado de lado.

"É uma decisão inadequada e incorreta. É uma usina extremamente cara, e investir nela não faz sentido porque existem muitas outras opções para produzir energia mais barata e com menos risco ambiental no Brasil", considera Goldemberg.

O preço estimado para a construção de Angra 3 é de 3,5 bilhões de dólares, num prazo de seis anos. Para Goldemberg, "esse custo é baseado em hipóteses extremamente favoráveis e que não vão se concretizar. No mundo todo, essas usinas costumam levar cerca de dez anos para serem terminadas. A possibilidade de que haja uma escalada de preços durante a construção é muito alta", diz o físico, que foi secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo de 2002 a 2006.

Obras em Angra 3 já neste ano
Um dos argumentos de Lula para a construção de Angra 3 é a previsão de que, já a partir de 2009, o Brasil não produzirá energia o suficiente para suprir a demanda. Hoje, a energia nuclear representa 4% da matriz energética brasileira.

A usina Angra 3 teria potência nominal de 1.350 MW, igual à de Angra 2. A retomada das obras foi aprovada em junho pelo Conselho Nacional de Política Energética e deve acontecer ainda este ano. Para Goldemberg, no entanto, a usina não seria a solução dos problemas. "Na melhor das hipóteses, Angra 3 vai ficar pronta entre 2014 e 2015. A crise de energia que se afigura para o Brasil deve ocorrer já a partir de 2009. Angra 3 não é uma resposta à crise que vamos enfrentar."

Submarino movido a energia nuclear
O aceno para a construção do submarino nuclear acalentado pela Marinha é, segundo Goldemberg, outra decisão equivocada. O projeto, que recebeu o aval do presidente Lula na terça-feira passada (10/06), prevê o investimento de 500 milhões de dólares
(R$ 1,04 bilhão) na construção de um submarino movido a energia nuclear. O reator nuclear seria construído com tecnologia brasileira, num trabalho que levaria cerca de oito anos para ser concluído.

O submarino, também um projeto da época da ditadura militar, garantiria a proteção das extensas costas brasileiras, defende a Marinha. Mas não só: está diretamente ligado ao interesse do país de dominar o ciclo do combustível atômico, exigindo o desenvolvimento da tecnologia necessária para construir o reator nuclear.

"O projeto envolve a construção de um reator pequeno, do zero, todo com tecnologia nacional, o que pode gerar preocupações com proliferação nuclear. Claro que a suspeita de enriquecer urânio para produção de armas nucleares está afastada no Brasil, que é signatário do Tratado de Não-proliferação de Armas Nucleares, e tem as usinas de enriquecimento fiscalizadas pela Agência Internacional de Energia Atômica", diz Goldemberg, que no entanto não entende o porquê de o projeto ter sido retomado agora. "As costas brasileiras não estão sendo mais ameaçadas hoje do que estavam há 10 anos."

Precendentes para o Atlântico Sul
De acordo com Maihold, a construção do submarino abriria uma nova dimensão no Atlântico Sul. "Até agora todos os países da região concordavam que esse
espaço deveria ser mantido livre de armas e poluição nucleares. Isso poderia comprometer esse entendimento", diz.

Maihold concorda apenas em parte com o argumento de Lula de que a energia nuclear é limpa e segura. "Em relação à emissão de dióxido carbono, o argumento procede. Mas, quando se considera fatores como o ciclo de enriquecimento, o armazenamento de materiais radioativos, os riscos de acidentes, o balanço é naturalmente outro. Ao ponderar entre segurança energética e proteção ao meio-ambiente, Lula optou pela segurança energética."


(Por Júlia Carneiro, DW World, 17/07/2007)


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