Cerca de cem recipientes contendo resíduos tóxicos na usina nuclear de Kashiwazaki-Kariwa, no Japão, foram derrubados pelos terremotos de segunda-feira (16/07) no país e vários apresentaram perda de líquido, informou a agência de notícias Kyodo, citada pela CNN, nesta terça-feira. A companhia energética responsável, Tepco, já encontrou ao menos 50 pontos de mal funcionamento na usina após os terremotos.
Dois terremotos, um de 6,8 graus e outro entre 6,6 graus e 6,8 graus na escala Richter, atingiram a Costa Oeste do Japão nesta segunda-feira e deixaram ao menos nove mortos e mil feridos no país. O primeiro tremor causou incêndio na usina de Kashiwazaki-Kariwa, uma das maiores do mundo, seguido por um vazamento inicial de água contendo materiais radioativos no mar do Japão.
Depois de admitirem o vazamento de água contaminada, especialistas analisam agora a quantidade de lixo tóxico que teria escapado e se há risco para o ambiente. Além dos 50 pontos de problemas --que incluem vazamentos de água e canos estourados-- a Tepco afirmou que ainda poderá encontrar novos problemas ao longo da inspeção.
Quatro dos sete reatores da usina estavam em funcionamento quando o primeiro terremoto atingiu o Japão, e todos foram fechados automaticamente por um mecanismo de segurança antitremores. A empresa afirma ainda que houve emissão acidental de cobalto-60 e cromo-51 (radioativos) da usina para a atmosfera, mas não se sabe a razão.
Kensuke Takeuchi, porta-voz da Tepco, disse que os defeitos são "problemas pequenos" que não apresentam danos ao ambiente externo ou à saúde pública. Apesar das garantias, os vazamentos despertaram uma reação irada de críticos e ativistas antienergia nuclear no Japão. Até altos oficiais do governo criticaram a falta de segurança no país, que se situa em uma das áreas com maior incidência de terremotos do mundo.
O pior acidente nuclear do Japão ocorreu em setembro de 1999, quando dois trabalhadores morreram e centenas de outros foram expostos a radiação em Tokaimura, ao nordeste de Tóquio. Há 55 reatores nucleares no país, que fornecem cerca de um terço da energia utilizada nacionalmente. Para Masanori Hamada, professor de engenharia de terremotos na Universidade Waseda, de Tóquio, a Tepco ainda deve explicações para a população sobre o acidente. "É impensável que um vazamento de água contaminada possa ocorrer tão facilmente", afirma.
VítimasMais de 12 mil pessoas aguardam ajuda governamental em abrigos no noroeste do Japão depois que os tremores derrubaram casas, abriram buracos em rodovias e interromperam serviços de eletricidade e fornecimento de água em várias cidades. Ontem chegou a nove o número de mortos após os dois terremotos. Seis mulheres e três homens, todos com mais de 70 anos, teriam morrido em conseqüência de ferimentos, a maioria após o desabamento de suas casas, informou um porta-voz da Agência Nacional de Polícia.
Mais de mil feridos foram levados aos hospitais nas Províncias de Niigata e Nagano. O primeiro tremor foi sentido até na capital do país, Tóquio. "Fique com tanto medo... os piores tremores continuaram por ao menos 20 segundos", disse Ritei Wakatsuki, funcionário de uma loja em Kashiwazaki. "Primeiro houve um forte choque vertical depois ficamos sentindo tremores de um lado para o outro por um longo tempo. Eu não conseguia ficar de pé, prateleiras caíram e tudo ficou jogado", disse Harumi Mikami, 55, uma professora que estava em sua escola em Kashiwazaki, perto do foco do terremoto da manhã de ontem.
O governo disponibilizou cem centros para acolher as pessoas desabrigadas em Niigata após o tremor inicial, que atingiu o país às 10h13 (22h13 de domingo em Brasília). Agências oficiais do Japão advertiram que ainda há risco de novos tremores no país. O primeiro terremoto, que teve seu epicentro a 17 km de profundidade na região de Niigata, sacudiu o noroeste do Japão e foi seguido de várias réplicas.
TremoresUm segundo terremoto voltou a atemorizar o país por volta das 23h18 (11h18 de Brasília) de ontem. A agência japonesa Kyodo afirmou que o terremoto foi de 6,6 graus na escala Richter, enquanto o Centro de Pesquisas Geológicas dos Estados Unidos registrou a intensidade de 6,8 graus.
Este novo tremor, no entanto, ocorreu a uma profundidade de 350,7 km sob o solo do mar do Japão, perto da região de Kyoto, e foi sentido com menos intensidade nas cidades do país. Ele alcançou o grau quatro de uma escala japonesa de sete níveis de intensidade. Um tremor deste nível não costuma provocar danos significativos, e nenhum alerta contra tsunamis foi emitido. Muitas casas, a maioria de madeira, desabaram. Crateras foram abertas nas rodovias e o teto de um templo caiu. O noroeste do Japão sofreu um terremoto que matou 65 pessoas há três anos. Hoje, bombeiros continuavam tentando resgatar uma mulher cuja voz foi ouvida entre as ruínas de uma casa que desabou na região, informou a NHK.
DanosOs serviços de trens foram interrompidos no norte do Japão devido ao tremor inicial. Um dos trens que estava viajando na hora do terremoto saiu dos trilhos, mas a mídia informou que não houve feridos. A energia e o gás foram cortados de várias casas e a NHK afirmou que 37 mil moradias ficaram sem água. "Temos tanques de água que podem durar por dois dias, mas não sabemos quando o sistema vai voltar a funcionar", disse Reiko Nakao, que trabalha em um hotel na vila de Kariwa. Alertas contra tsunamis chegaram a ser lançados no país após o primeiro terremoto, mas mais tarde foram suspensos sem registro de ondas gigantes.
Em outubro de 2004 Niigata foi atingida por um terremoto da mesma magnitude do tremor desta segunda-feira. Há três anos, no entanto, o resultado foi pior: 65 mortos e mais de 3.000 feridos. Foi um dos mais mortíferos terremotos no Japão desde 1995, quando um tremor de 7,3 graus na escala Richter na cidade de Kobe matou 6.400 pessoas. O governo do premiê do Japão, Shinzo Abe, constituiu um escritório especial para lidar com o terremoto, que segundo oficiais danificou ao menos 350 edifícios.
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Folha Online, 17/07/2007)